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Mensagens

A mostrar mensagens de junho, 2007

AFASTA DE MIM ESSES LÁBIOS do livro * Rosa do Mundo *

AFASTA DE MIM ESSES LÁBIOS Guarda para ti esse beijo Menina virgem dos dentes brancos! Nesse teu beijo eu gosto não acho Longe de mim guarda teus lábios. Mais doce que o mel um beijo eu tive Do mulher casada que o deu por amor. Até que se acabem o mundo e os dias Beijo de gosto só esse terei; esse não outro. Até que a veja tal como é em sua pessoa Por obra e por graça do filho de Deus Outras mulheres novas e velhas não hei-de amar Pois que o seu beijo é como é, foi e será. Poema Cultura celta ( irlandês) Séc. XVI/XVI Poeta ANÓNIMO Tradução de José Domingos Morais

FERNANDO MONTEIRO DA CÂMARA PEREIRA poema " D.IV"

Se sou o poeta perdido no nada poderei parar o tempo perdido e o tempo que vem como se pára o vento como se pára o universo-deus Porque o poeta é o infinito onde a gota de água... calada assume a dimensão dum universo Se sou o poeta do nada poderei sonharãté ao intangivel e ver o universo aos pés do Nada Se sou o poeta que sofre então meterei o universo na gota de água ... da manhã da esperança Março 1981 Fernando Monteiro do Livro " Mar Branco "

*A DOR DA SEPARAÇÂO * Poema de Maruyama Kaoru - Japão

Pousada numa âncora, uma gaivota pia, De súbito, sem uma palavra, a âncora desliza, Surpreendida, a gaivota levanta voo, Em breve, a âncora empalidece na água, afundando-se. E o que a gaivota sente torna-se um grito bravio, triste, Perdido no vento. Tradução de: José Alberto Oliveira Do Livro * ROSA DO MUNDO *

* RECINTO * poema de Carlos Pellicer - México

Onde porei o ouvido que não escute minha voz a chamar-te? E onde não escutar este silêncio que te afasta lentamente triste? Eu caminho as horas presenciadas em nós por nós os dois. Sei desse fruto maduro das vozes em campos de Setembro. Sei da noite esbelta e já tão nua em que os nossos corpos eram um. Sei do silêncio perante a gente obscura, de calar este amor que é de outro modo. Enquanto chove a ausência liberto a escravidão de carne e a alma só no ar suspende sua águia amorosa que as nuvens pacíficas igualam. Tradução de : José Bento do Livro * ROSA DO MUNDO *

* NÃO CHORO... * poema de José Gomes Ferreira do Livro " ROSA DO MUNDO "

A dor não me pertence. Vive fora de mim, na natureza, livre como a electricidade. Carrega os céus de sombra, entra nas plantas, desfaz as flores... Corre nas veias do ar, atrai nos abismos, curva os pinheiros... E em certos momentos de penumbra iguala-me à paisagem, surge nos meus olhos presa a um pássaro a morrer no céu indiferente. Mas não choro. Não vale a pena! A dor não é humana. José Gomes Ferreira

António Botto " CANÇÃO " do Livro * ROSA DO MUNDO *

CANÇÃO S e fosses luz serias a mais bela De quantas há no mundo : - a luz do dia ! - Bendito seja o teu sorriso Que desata a inspiração Da minha fantasia ! Se fosses flor serias o perfume Concentrado e divino que perturba O sentir de quem nasce para amar ! - Se desejo o teu corpo é porque tenho Dentro de mim A sede e a vibração de te beijar! Se fosses água - música da terra, Serias água pura e sempre calma! - Mas de tudo o que possas ser na vida, Só quero, meu amor, que sejas alma ! ANTÓNIO BOTTO (1897-1959)

HORAS RUBRAS de Florbela Espanca - do Livro * ROSA DO MUNDO *

HORAS RUBRAS Horas profundas, lentas e caladas, Feitas de beijos, sensuais e ardentes, De noites de volúpia, noites quentes Onde há risos de virgens desmaiadas… Ouço as olaias rindo desgrenhadas… Tombam astros em fogo, astros dementes. E do luar os beijos languescentes São pedaços de prata pelas estradas… Os meus lábios são brancos como lagos… Os meus braços são leves como afagos, Vestiu-os o luar de sedas puras … Sou chama e neve branca e misteriosa… E sou, talvez na noite voluptuosa, Ó meu Poeta, o beijo que procuras ! Florbela Espanca (1894-1930)

* A PALAVRA IMPOSSÍVEL * poema de Adolfo Casais Monteiro

Deram-me o silêncio para eu guardar dentro de mim A vida que não se troca por palavras. Deram-mo para eu guardar dentro de mim As vozes que só em mim são verdadeiras. Deram-mo para eu guardar dentro de mim A impossível palavra verdade. Deram-me o silêncio como uma palavra impossível, Nua e clara como o fulgor duma lâmina invencível, Para eu guardar dentro de mim, Para eu ignorar dentro de mim A única palavra sem disfarce - A palavra que nunca se profere. ADOLFO CASAIS MONTEIRO do Livro * Rosa do Mundo * 2001 Poemas para o Futuro

A MINHA AMANTE TEM AS VIRTUDES DA ÁGUA do Poeta Francês * VICTOR SEGALEN * - Do Livro " ROSA DO MUNDO " 2001 poemas

A MINHA AMANTE TEM AS VIRTUDES DA ÁGUA A minha amante tem as virtudes da água : um sorriso claro, os gestos fluentes, uma voz pura que canta gota a gota. - E por vezes, - sem querer – um fogo passa pelo meu olhar, sabe como ateá-lo estremecendo : água tirada sobre as brasas . Minha água viva, ei-la derramada, toda, sobre a terra! Foge-me, desliza; - e tenho sede , e corro atrás dela. Com minhas mãos formo uma taça. Com minhas duas mãos embriagado estanco-a, estreito-a, levo-a aos lábios : E trago uma mão cheia de lama. Tradução de Filipe Jarro França VICTOR SEGALEN (1878-1919)

Poema de JOÃO DE DEUS * A VIDA * (Excerto)

A VIDA (Excerto) A vida é o dia de hoje, A vida é ai que mal soa, A vida é sombra que foge, A vida é nuvem que voa; A vida é sonho tão leve Que se desfaz como a neve E como o fumo se esvai: A vida dura um momento, Mais leve que o pensamento, A vida leva-a o vento, A vida é folha que cai! A vida é flor na corrente, A vida é sopro suave, A vida é estrela cadente, Voa mais leve que a ave; Nuvem que o vento nos ares, Onda que o vento nos mares, Uma após outra lançou, A vida - pena caída Da asa de ave ferida - De vale em vale impelida A vida o vento a levou JOÃO DE DEUS (1830-1896) Do livro * ROSA DO MUNDO * 2001 Poemas para o Futuro

* OS AMANTES APARTADOS * de Isobel, Condessa de Argyll

OS AMANTES APARTADOS Eu sei de um jovem que é meu desejo. Oh Rei dos Reis ! Fazei que ele venha sem mais demora. Eu só o quero bem enlaçado contra o meu seio Com o seu corpo bem apoiado na minha pele. Se a vida fosse como eu a quero Longe de mim e eu longe dele nunca seríamos. Sinais não vejo da sua chegada E ele não sabe como eu o quero e é meu desejo. No mundo não há maior tristeza que nós os dois Pois o seu barco voga e navega longe de casa No seu caminho do oriente; minha morada é ocidente. Eu o desejo e ele me quer e a vida é desejos vãos. Tradução de José Domingos Morais Do Livro * ROSA DO MUNDO *