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Mensagens

A mostrar mensagens de agosto, 2007

O MEU DESEJO poema de Florbela Espanca

Vejo-te só a ti no azul dos céus, Olhando a nuvem de oiro que flutua... Ó minha perfeição que criou Deus E que num dia lindo me fez sua! Nos vultos que diviso pela rua, Que cruzam os seus passos com os meus... Minha boca tem fome só da tua! Meus olhos têm sede só dos teus! Sombra da tua sombra, doce e calma, Sou a grande quimera da tua alma E, sem viver, ando a viver contigo... Deixa-me andar assim no teu caminho Por toda a vida, Amor, devagarinho, Até a Morte me levar consigo ... Florbela Espanca

Almada Negreiros " MÃE "

Vem ouvir a minha cabeça a contar histórias ricas que ainda não viajei! Traze tinta encarnada para escrever estas coisas! Tinta cor de sangue, sangue! verdadeiro, encarnado! Mãe! Passa a tua mão pela minha cabeça! Eu ainda não fiz viagens e a minha cabeça não se lembra senão de viagens! Eu vou viajar. Tenho sede ! Eu prometo saber viajar . Quando voltar é para subir os degraus da tua casa, um por um. Eu vou aprender de cor os degraus da nossa casa. Depois venho sentar-me a teu lado. Tu a coseres e eu a contar-te as minhas viagens, aquelas que eu viajei, tão parecidas com as que não viajei, escritas ambas com as mesmas palavras. Mãe!Ata as tuas mãos ás minhas e dá um nó cego muito apertado! Eu quero ser qualquer coisa da nossa casa. Como a mesa. Eu também quero ter um feitio, um feitio que sirva exactamente para a nossa casa, como a mesa. Mãe! Passa a tua mão pela minha cabeça! Quando passas a tua mão na minha cabeça é tudo tão verdade ! Almada Negreiros (1893-1970) Do Livro " ROSA

BEL poema de " Luís Veiga Leitão "

Hálito de terra depois da chuva: cálida ternura aflorando do lábio Teu corpo leveza que pesa um sabor sábio secreto da Natureza Por isso os bichos te amam em suas falas naturais: os felinos os caprinos e os poetas - bichos marginais Luís Veiga Leitão

" Biografia "Poema de PEDRO HOMEM DE MELO

Com lírios nas mãos de neve, Subi ao último andar, A haver farda, era tão leve Que fui subindo a cantar! E fui subindo, subindo... Só parei no patamar, Abri as portas e janelas Para poder respirar. Tudo o que se via delas Tinha a cor do meu olhar. Da varanda me inclinei, Para medir-lhe o tamanho. Ai! dos vassalos de El-Rei Aos quais El-Rei fica estranho! Lá do alto, cá em baixo, o rio Transformara-se em regato. Reparei que, debruçadas, Sobre o seu leito vazio, Faias, apontando espadas, Lhe exigiam um retrato. Soprou, de súbito, o vento! Varreu a noite a direito, Rindo... Que risada fria! Entanto o solar, ao vento, Erecto fazendo peito, Resistia, resistia... Mas, das brechas do telhado, Água, sôfrega, escorrera. E o torreão do solar - Ameias de pedra ou cera? Era um pássaro assustado Sem asas para voar. Pedro Homem de Mello (1904-1984)

CANÇÃO poema de Madagascar do Livro * Rosa do Mundo *

És uma fruta dourada, uma banana madura. Se uma borboleta te roça, eu não me afasto de ti. - Todo aquele que morre por amor de sua amada é um pequeno caimão que a própria mãe devora, e que regressa ao ventre de que tem toda a ciência. Versão : Herberto Helder