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Mensagens

A mostrar mensagens de julho, 2009

A BOCA poema de Umberto Saba ( Itália )

A boca que primeiro levou aos meus lábios a cor da aurora ainda em belos pensamentos desconto o aroma. Ó pueril boca, amada boca, que dizias o que ousavas e tão doce eras a beijar. Tradução de Eugénio de Andrade

Eu Não Sou de Ninguém.... poema de FLORBELA ESPANCA

Eu não sou de ninguém!... Quem me quiser Há-de ser luz do Sol em tardes quentes; Nos olhos de água clara há-de trazer As fúlgidas pupilas dos videntes! Há-de ser seiva no botão repleto, Voz no murmúrio do pequeno insecto, Vento que enfurna as velas sobre os mastros!... Há-de ser Outro e Outro num momento! Força viva, brutal, em movimento, Astro arrastando catadupas de astros! Florbela Espanca

Poema de Ângelo de Lima

Pára-me de repente o pensamento Como que de repente refreado Na doida correria em que levado Ia em busca da paz do esquecimento. Pára surpreso, escrutador, atento, Como pára um cavalo alucinado Ante um abismo súbito rasgado, Pára e fica, e demora-se um momento. Pára e fica, na doida correria. Pára à beira do abismo, e se demora. E mergulha na noite escura e fria Um olhar de aço, que essa noite explora. Mas a espora da dor seu flanco estria, E ele galga e prossegue sob a espora... Ângelo de Lima

A Mulher Que Passa poema de Vinicius de Moraes

A mulher que passa Meu Deus, eu quero a mulher que passa Seu dorso frio é um campo de lírios Tem sete cores nos seus cabelos Sete esperanças na boca fresca! Oh! como és linda, mulher que passas Que me sacias e suplicias Dentro das noites, dentro dos dias! Teus sentimentos são poesia Teus sofrimentos, melancolia. Teus pelos leves são relva boa Fresca e macia. Teus belos braços são cisnes mansos Longe das vozes da ventania. Meu Deus, eu quero a mulher que passa! Como te adoro, mulher que passas Que vens e passas, que me sacias Dentro das noites, dentro dos dias! Por que me faltas, se te procuro? Por que me odeias quando te juro Que te perdia se me encontravas E me concontrava se te perdias? Por que não voltas, mulher que passas? Por que não enches a minha vida? Por que não voltas, mulher querida Sempre perdida, nunca encontrada? Por que não voltas à minha vida Para o que sofro não ser desgraça? Meu Deus, eu quero a mulher que passa! Eu quero-a agora, sem mais demora A minha amada mulher

O poema da " MENTE " desconheço o autor

O POEMA DA 'MENTE' Há um primeiro-ministro que mente. Mente de corpo e alma, completamente. E mente de maneira tão pungente Que a gente acha que ele mente sinceramente. Mas que mente, sobretudo, impunemente... Indecentemente... mente. E mente tão racionalmente, Que acha que mentindo vida fora, Nos vai enganar eternamente. Desconheço o autor , mas achei bastante divertido, e por isso, partilho aqui a brincadeira.

* ALMA MINHA GENTIL QUE PARTISTE * Luis Vaz de Camões

Alma minha gentil, que te partiste Tão cedo desta vida, descontente, Repousa lá no Céu eternamente E viva eu cá na terra sempre triste. Se lá no assento etéreo, onde subiste, Memória desta vida se consente, Não te esqueças daquele amor ardente Que já nos olhos meus tão puro viste. E se vires que pode merecer-te Alguma cousa a dor que me ficou Da mágoa, sem remédio, de perder-te, Roga a Deus, que teus anos encurtou, Que tão cedo de cá me leve a ver-te, Quão cedo de meus olhos te levou. Luis Camões

Que noite serena !.....Àlvaro de Campos heterónimo de Fernando Pessoa

Que noite serena! Que lindo luar! Que linda barquinha Bailando no mar! Suave, todo o passado — o que foi aqui de Lisboa — me surge... O terceiro andar das tias, o sossego de outrora, Sossego de várias espécies, A infância sem futuro pensado, O ruído aparentemente contínuo da máquina de costura delas, E tudo bom e a horas, De um bem e de um a horas próprio, hoje morto. Meu Deus, que fiz eu da vida? Que noite serena, etc. Quem é que cantava isso? Isso estava lá. Lembro-me mas esqueço. E dói, dói, dói... Por amor de Deus, parem com isso dentro da minha cabeça. Álvaro de Campos, in "Poemas" Heterónimo de Fernando Pessoa