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Mensagens

A mostrar mensagens de agosto, 2009

INTIMIDADE poema de VITOR CINTRA

Teu corpo, poema ardente. Frenética rima de ais, Aurora, pedindo mais, Com louco vigor, fremente. Teu rosto, sorriso aberto, Promessa, sonho, desejo, Tornando-se a cada beijo Tão quente, quanto tão certo. E o dia feito uma hora, Por entre os ais e os gemidos, Festim, sem par, dos sentidos. Mas, quando te vais embora, Só fica o teu cheiro, intenso, Enchendo o vazio imenso VITOR CINTRA Do novo livro " PEDAÇOS DO MEU SENTIR " À venda nas livrarias, consulte: Editora Temas Originais

POEMA de Sophia de Mello Breyner Anderson

A minha vida é o mar o Abril a rua O meu interior é uma atenção voltada para fora O meu viver escuta A frase que de coisa em coisa silabada Grava no espaço e no tempo a sua escrita Não trago Deus em mim mas no mundo o procuro Sabendo que o real o mostrará Não tenho explicações Olho e confronto E por método é nu meu pensamento A terra o sol o vento o mar São a minha biografia e são meu rosto Por isso não me peçam cartão de identidade Pois nenhum outro senão o mundo tenho Não me peçam opiniões nem entrevistas Não me perguntem datas nem moradas De tudo quanto vejo me acrescento E a hora da minha morte aflora lentamente Cada dia preparada Sophia de Mello Breyner Andresen

JEITO DE SER poema de Gracinda Medeiros

JEITO DE SER Abraço o mundo com olhos de sentir e de tocar enquanto as mãos ficam livres para o fazer e para o distribuir. Vejo a vida com braços de acolher e de libertar enquanto os pés seguem trilhas de perder e de encontrar. E assim, abraçando tudo que vejo, posso sentir tudo que faço, acolher tudo que encontro e libertar tudo que perco Gracinda Medeiros

AMOR e SONO poema de Algernon Charles Swinburne

Deitado a dormir entre os afagos da noite Vi o meu amor debruçar-se sobre o meu leito, Pálida como a mais escura folha do lírio ou corola De pele macia e escura, o pescoço nu para ser mordido, * Transparente de mais para corar, tão quente para ser branca, Apenas de uma cor perfeita sem branco nem vermelho. E os lábios abriram-se-lhe amorosamente e disseram - Nem sei bem o quê, excepto uma palavra -Deleite. * E a face dela era toda mel na minha boca, E o corpo dela todo pasto a meus olhos; Os braços longos e lentos, as mãos quentes de fogo, * As ancas frementes, o cabelo a cheirar a Sul, os pés leves luzentes, as coxas esplêndidas e dóceis E as pálpebras fulgentes com o desejo da minha alma. Charles SwinburneLondres, 1837 Trad. Helena Barras do livro * Rosa dos Ventos *

Aperta-me Junto de Ti....poema de Rui Ressurreição

Aperta-me junto de ti, Quero o teu calor, o teu amor. Este sentimento de pertença, Este divino laço de ternura, Que nos ligará, para toda a eternidade. Continuarei a ser quem sou, eu mesmo, Aberto à vida, aberto ao mundo, Transparente ao meu destino, Com a música dentro do meu ser, A me fazer viver, no mais alto dos céus. Olha-me nos olhos Que vês dentro de mim? Gostas de mim? Do meu ser? Sinto que queres a minha companhia, Para junto vivermos em alegria, Descobrir o oceano do amor, Mesmo dentro da nossa dor, Percorrendo esse caminho, menos percorrido, Nas esferas do nosso destino. Quero pular e saltar, Amar sem limites... Sem fronteiras ou barreiras, Acreditar no teu amor, No teu calor... Que evapora os meus desejos, Condensando num ponto de eternidade, Um grito de alma, Que chama por socorro, Dentro dos seus mistérios... Dentro de seu labirinto... De vida, da sua alma querida ! RUI RESSURREIÇÃO

AMARRAS...poema de Rui Ressurreição

Já não sei o que sou, Já não sei para onde vou. Estas amarras que me prendem, a um destino sem amor... Em que me roubam o meu interior, Em que me afagam o ego, E matam o meu ser. Eu deixo, E eu sinto; Carências... Existências, por viver... Tristeza, Solidão, Ingratidão. Aqui estou eu a chorar, Sem amar, Sem viver, Mas com vontade de morrer! RUI RESSURREIÇÃO

QUEM ÉS?... poema de Ângelo Gomes

És o sonho que se vislumbra ao longe O mosteiro secreto onde habita o monge A árida planície que é dura... que é mole, Conforme as chuvas te fustiguem ou não... És o som das palavras que me dão vida O trautear da canção de urânio enriquecida... Quem és tu? Serás a lua? Serás o sol? Ou serás um enclave no meu coração? Ângelo Gomes

O CASAMENTO poema de Willem Elsschot ( Bélgica)

Quando ele descobriu como a névoa do tempo nos olhos da mulher faúlhas apagara, as faces submergira, a testa lhe sulcara, afastou o olhar, tomado de tormento. Maldisse em furor e a barba arrancaria, co'os olhos a mediu, mas nada pra excitar, e essa infância ele viu em danação mudar, enquanto o olhava ela, cavalo que morria. Mas morrer não morreu, e bem ele tentou sugar o imo à ossada que firme a sustentava. Não mais ela falou, queixar-se não ousava, tremia que era um dó, mas curada ficou. Pensou: dou cabo dela e puxo fogo à casa. Arranco o estrado fungo que os pés me entorpeceu. E como quem por vaus e por fogo correu alhures acharei o amor que tanto abrasa. Mas matar não matou, porque entre sonho e agir atravessam-se leis e mais triviais questões, e até melancolia, pra a qual faltam razões, e que à noite acomete, quando se vai dormir. Os miúdos cresceram, com os anos a correr, e viram que o sujeito a quem chamavam pai quieto ao pé do lume e sem dizer um ai punha um ar tenebroso e h

" Desejo " poema de Sérgio Jockimann

Desejo primeiro que você ame, E que amando, também seja amado. E que se não for, seja breve em esquecer. E que esquecendo, não guarde mágoa. Desejo, pois, que não seja assim, Mas se for, saiba ser sem desesperar. Desejo também que tenha amigos, Que mesmo maus e inconseqüentes, Sejam corajosos e fiéis, E que pelo menos num deles Você possa confiar sem duvidar. E porque a vida é assim, Desejo ainda que você tenha inimigos. Nem muitos, nem poucos, Mas na medida exata para que, algumas vezes, Você se interpele a respeito De suas próprias certezas. E que entre eles, haja pelo menos um que seja justo, Para que você não se sinta demasiado seguro. Desejo depois que você seja útil, Mas não insubstituível. E que nos maus momentos, Quando não restar mais nada, Essa utilidade seja suficiente para manter você de pé. Desejo ainda que você seja tolerante, Não com os que erram pouco, porque isso é fácil, Mas com os que erram muito e irremediavelmente, E que fazendo bom uso dessa tolerância, Você sir

Memória poema de Cecília Meireles

Dedico á minha MÃE, onde quer que esteja, hoje dia do seu aniversário. COM SAUDADES Tão longe, a minha família! Tão dividida em pedaços! Um pedaço em cada parte... Pelas esquinas do tempo, brincam meus irmãos antigos: uns anjos, outros palhaços... Seus vultos de labareda rompem-se como retratos feitos em papel de seda. Vejo lábios, vejo braços - por um momento persigo-os; de repente, os mais exatos perdem sua exatidão. Se falo, nada responde. Depois, tudo vira vento e nem o meu pensamento pode compreender por onde passaram nem onde estão. CECÍLIA MEIRELES