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Mensagens

A mostrar mensagens de abril, 2010

Soneto Martelado de JOSÉ BLANC DE PORTUGAL

A tarde, e por de mais calma, Afogou-me o que ficara da partida Tudo que inventara, essa mentira querida Que ficara fazendo as vezes da alma. Passa e segue a triste gente calada E o correio e a luz quebrada no muro Trazem a tarde, recortando duro O perfil triste e morno desta minha estrada. E choca e vem de mim até ao céu polido Liso e puro e sempre igual estendido Sobre mim e a rua desolada, Uma ilusão que nada tem de alada E é feita de aço puro e diamantes: Não querer tornar-me no que era dantes. José Blanc de Portugal

Poema em Linha Recta de Álvaro de Campos

Nunca conheci quem tivesse levado porrada. Todos os meus conhecidos têm sido campeões em tudo. E eu, tantas vezes reles, tantas vezes porco, tantas vezes vil, Eu tantas vezes irrespondivelmente parasita, Indesculpavelmente sujo, Eu, que tantas vezes não tenho tido paciência para tomar banho, Eu, que tantas vezes tenho sido ridículo, absurdo, Que tenho enrolado os pés publicamente nos tapetes das etiquetas, Que tenho sido grotesco, mesquinho, submisso e arrogante, Que tenho sofrido enxovalhos e calado, Que quando não tenho calado, tenho sido mais ridículo ainda; Eu, que tenho sido cómico às criadas de hotel, Eu, que tenho sentido o piscar de olhos dos moços de fretes, Eu, que tenho feito vergonhas financeiras, pedido emprestado sem pagar, Eu, que, quando a hora do soco surgiu, me tenho agachado Para fora da possibilidade do soco; Eu, que tenho sofrido a angústia das pequenas coisas ridículas, Eu verifico que não tenho par nisto tudo neste mundo.

Pecado Original .......SIDÓNIO BETTENCOURT

As pedras.os corpos.as asas. Sonhos perdidos na ânsia de tocar o longe e ficar estátua de voz rouca. É sempre o grito que nos une. Este permanente apelo de liberdade em cântico. Vozes multiplicadas de verdade sentida.transparente e dorida. Por isso havemos de cantar alto. onde a onda anda ou lá no alto da montanha. Mãos nas mãos. olhos nos Olhos. Sidónio Bettencourt