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Mensagens

A mostrar mensagens de junho, 2011

Lúbrica....poema de Cesário Verde

  Mandaste-me dizer, No teu bilhete ardente, Que hás-de por mim morrer, Morrer muito contente. Lançaste no papel As mais lascivas frases; A carta era um painel De cenas de rapazes! Ó cálida mulher, Teus dedos delicados Traçaram do prazer Os quadros depravados! Contudo, um teu olhar É muito mais fogoso, Que a febre epistolar Do teu bilhete ansioso: Do teu rostinho oval Os olhos tão nefandos Traduzem menos mal Os vícios execrandos. Teus olhos sensuais Libidinosa Marta, Teus olhos dizem mais Que a tua própria carta. As grandes comoções Tu, neles, sempre espelhas; São lúbricas paixões As vívidas centelhas… Teus olhos imorais, Mulher, que me dissecas, Teus olhos dizem mais, Que muitas bibliotecas! Cesário Verde

O Objecto....poema de Ary dos Santos

Há que dizer-se das coisas o somenos que elas são. Se for um copo é um copo se for um cão é um cão. Mas quando o copo se parte e quando o cão faz ão ão? Então o copo é um caco e um cão não passa dum cão. Quatro cacos são um copo quatro latidos um cão. Mas se forem de vidraça e logo foram janela? Mas se forem de pirraça e logo forem cadela? E se o copo for rachado? E se o cão não tiver dono? Não é um copo é um gato não é um cão é um chato que nos interrompe o sono. E se o chato não for chato e apenas cão sem coleira? E se o copo for de sopa? Não é um copo é um prato não é um cão é literato que anda sem eira nem beira e não ganha para a roupa. E se o prato for de merda e o literato de esquerda? Parte-se o prato que é caco mata-se o vate que é cão e escreveremos então parte prato sape gato vai-te vate foge cão Assim se chamam as coisas pelos nomes que elas são. Ary dos Santos

Mudam-se os Tempos...Mudam-se as Vontades..... LUIS VAZ DE CAMÕES

Mudam-se os tempos, mudam-se as vontades, muda-se o ser, muda-se a confiança; todo o Mundo é composto de mudança, tomando sempre novas qualidades. Continuamente vemos novidades, diferentes em tudo da esperança; do mal ficam as mágoas na lembrança, e do bem (se algum houve), as saudades. O tempo cobre o chão de verde manto, que já coberto foi de neve fria, e, enfim, converte em choro o doce canto. E, afora este mudar-se cada dia, outra mudança faz de mor espanto, que não se muda já como soía. Luís de Camões