Avançar para o conteúdo principal

Mensagens

A mostrar mensagens de março, 2012

Crepuscular..... Camilo Pessanha

Há no ambiente um murmúrio de queixume,  De desejos de amor, d'ais comprimidos...  Uma ternura esparsa de balidos,  Sente-se esmorecer como um perfume.  As madressilvas murcham nos silvados  E o aroma que exalam pelo espaço,  Tem delíquios de gozo e de cansaço,  Nervosos, femininos, delicados,  Sentem-se espasmos, agonias d'ave,  Inapreensíveis, mínimas, serenas...  _ Tenho entre as mãos as tuas mãos pequenas,  O meu olhar no teu olhar suave.  As tuas mãos tão brancas d'anemia...  Os teus olhos tão meigos de tristeza...  _ É este enlanguescer da natureza,  Este vago sofrer do fim do dia.  CAMILO PESSANHA

Dia do Pai...

Querido Pai, Apesar de eu ter crescido e tu partido, continuo no íntimo a ser aquela criança, que guarda o velho relógio despertador, que um dia trouxeste para casa, para que a mãe acordasse de 3 em 3 horas para alimentar a tua menina. Hoje é o teu dia, mas, ambos sabemos que todos os dias me lembro de ti e, tenho-te presente no meu coração. Sinto tantas saudades tuas. Sente um beijo meu.   Imaria

Palavras para a minha Mãe...José Luis Peixoto

Mãe, tenho pena. esperei sempre que entendesses  as palavras que nunca disse e os gestos que nunca fiz.  sei hoje que apenas esperei, mãe, e esperar não é suficiente.  pelas palavras que nunca disse, pelos gestos que me pediste tanto e eu nunca fui capaz de fazer, quero pedir-te desculpa, mãe, e sei que pedir desculpa não é suficiente. às vezes, quero dizer-te tantas coisas que não consigo, a fotografia em que estou ao teu colo é a fotografia mais bonita que tenho, gosto de quando estás feliz. lê isto: mãe, amo-te. eu sei e tu sabes que poderei sempre fingir que não escrevi estas palavras, sim, mãe, hei-de fingir que não escrevi estas palavras, e tu hás-de fingir que não as leste, somos assim, mãe, mas eu sei e tu sabes. José Luís Peixoto, in "A Casa, a Escuridão

Ode ao Gato - José Jorge Letria

Tu e eu temos de permeio a rebeldia que desassossega, a matéria compulsiva dos sentidos. Que ninguém nos dome, que ninguém tente reduzir-nos ao silêncio branco da cinza, pois nós temos fôlegos largos de vento e de névoa para de novo nos erguermos e, sobre o desconsolo dos escombros, formarmos o salto que leva à glória ou à morte, conforme a harmonia dos astros e a regra elementar do destino. JOSÉ JORGE LETRIA