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Mensagens

A mostrar mensagens de outubro, 2008

" A Dor Que Dói Mais " de MARTHA MEDEIROS

Em alguma outra vida, devemos ter feito algo de muito grave, Para sentirmos tanta saudade... Trancar o dedo numa porta dói. Bater com o queixo no chão dói. Torcer o tornozelo dói. Um tapa, um soco, um pontapé , doem. Dói bater a cabeça na quina da mesa, Dói morder a língua, dói cólica, cárie e pedra no rim. Mas o que mais dói é a saudade. Saudade de um irmão que mora longe, Saudade de uma cachoeira da infância, Saudade do gosto de uma fruta que não se encontra mais, Saudade do pai que morreu, do amigo imaginário que nunca existiu, Saudade de uma cidade, Saudade da gente mesmo, que o tempo não perdoa. Doem estas saudades todas. Mas a saudade mais dolorida é a saudade de quem se ama. Saudade da pele, do cheiro, dos beijos. Saudade da presença, e até da ausência consentida. Você podia ficar no quarto e ela na sala, sem se verem, mas sabiam-se lá. Você podia ir para o dentista e ela pra faculdade, mas sabiam-se onde. Você podia ficar o dia sem vê-la, ela sem vê-lo, mas sabiam-se amanhã. Co

Não Sei Nada...... poema de LG

Pergunto a mim próprio se existo, ou se apenas resisto às mais doces tempestades; poço de mentiras e verdades em que teimosamente insisto. Pergunto a mim mesmo se valho, ou se apenas resvalo em delícias planas; simples desflorador de camas, ou singela gota de orvalho.. Pergunto a mim próprio se penso, ou se só lanço a confusão; se é líquida resignação, ou os meus próprios medos venço.. Pergunto a mim mesmo se lido, ou mergulho na preguiça; se lidero a justiça, ou se por ela fui vencido.. Pergunto a mim próprio se vivo tal como a vida se imagina, se antevê ou se alucina, ou sou dela apenas cativo.. Pergunto, por fim, a mim próprio, se perguntar a mim mesmo sei, ou se, pelo contrário, herdei o dom de ser um ser impróprio. . Poema de Luis Gabriel

OCIDENTE-ORIENTE poema de Adonis ( 'Ali Ahmad Sa'Id)

Era algo que se estendia no túnel da História, Algo enfeitado e minado Levando seu menino de nafta envenenado, Por venenoso mercador cantado; Era um Oriente - criança que pede, Grita " Socorro !" E o Ocidente, seu senhor nunca errado - Mudado está agora este mapa; O Universo em chamas, Oriente - Ocidente : um só Túmulo Em cinza os tem juntado ...

" Já um Pouco de Vento se Demorara " poema de VITORINO NEMÉSIO

Já um pouco de vento se demora; Já sua força vale a de uma mão Nestes papéis que trago para fora, Que o campo dá certeza e solidão. O calor fez a casa mais delgada, Agora colho a tarde: a vida não. Sou a macieira carregada: De palavras a mais cobri o chão. Árvores há no outono que conhecem O toque e ardor das folhas de amanhã E esperando-as, altas, adormecem. Com espaço e vento nunca a vida é vã. Eu volto à mão do outono em meus papéis. Penso e, indiscreto, o ar remove Estas imagens cruéis Que a minha vida comove VITORINO NEMÉSIO

AMIÚDE poema de Raul de Carvalho

AMIÚDE No vale dos afectos ninguém está seguro: Mingua a lembrança, Esquece-se o rosto, Retorna-se ao eu, Os lábios secam, as palavras dormem, os sonhos dispersam-se, a presença ausenta-se, há o lago de que não se vê o fundo - E apenas as pequenas ilusões - um café, o cigarro, a limonada - imitam dois corações unidos ... Raul de Carvalho

O BANHO DOS POBRES poema de Tonino Guerra ( Itália )

O BANHO DOS POBRES Os pobres da minha terra tomam banho no rio e estão de molho na água um dia inteiro. Ali há muito ar muito sol muitos borrifos. Voltam quando é noite Encontram outra vez as velhas casas com as cabeças dos gatos aos janelos e toda a água nos cântaros represa.