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Mensagens

A mostrar mensagens de 2018

Soneto Insustentável...... Paulo Ramalho

SONETO INSUSTENTÁVEL (Anoiteço entre os tambores da grande noite mágica embalado por mil temores enquanto à luz da lua trágica os mortos libertam seus odores, os anjos morrem em África.) Um soneto insustentável: eu ao contrário em cada verso, eu, recordação indelével, perdido numa picada sem regresso. Todo o passado é maleável e a memória purga seu excesso mas de mim, criança instável, lembro a dor, o fundo abcesso. Paulo Ramalho, "Exorcismo dos Anjos" Foto: Guiné-Bissau, Julho de 1974

Os versos que te fiz ...Florbela Espanca

Deixa dizer-te os lindos versos raros Que a minha boca tem para te dizer! São talhados em mármore de Paros Cinzelados por mim para te oferecer Têm dolência de veludos caros, São como sedas pálidas a arder... Deixa dizer-te os lindos versos raros Que foram feitos pra te endoidecer! Mas,meu Amor,eu não tos digo ainda. Que a boca da mulher é sempre linda Se dentro guarda um verso que não diz Amo-te tanto!E nunca te beijei... E nesse beijo,Amor,que eu não dei Guardo os versos mais lindos que te fiz! Florbela Espanca

O Meu Orgulho.....Florbela Espanca

O Meu Orgulho Lembro-me o que fui dantes. Quem me dera  Não me lembrar! Em tardes dolorosas  Lembro-me que fui a Primavera  Que em muros velhos faz nascer as rosas!  As minhas mãos outrora carinhosas  Pairavam como pombas... Quem soubera  Porque tudo passou e foi quimera,  E porque os muros velhos não dão rosas!  O que eu mais amo é que mais me esquece...  E eu sonho: "Quem olvida não merece..."  E já não fico tão abandonada!  Sinto que valho mais, mais pobrezinha:  Que também é orgulho ser sozinha,  E também é nobreza não ter nada!  Florbela Espanca, in "Livro de Sóror Saudade"