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Mensagens

A mostrar mensagens de 2006

NATAL QUE NÃO VOLTA...

Antigamente, Quando a vida me sorria, No tempo em que brincava, E alegremente Corria E saltava… Nesse tempo em que solteiro de ilusões Acreditava Nas fadas E nos Papões… Enfim, Antigamente, A vida para mim Era bem diferente! … O Meu Jesus Trazia-me sempre um presente… Um lindo brinquedo Que eu pedia Muito em segredo! … … E recebia-o contente ! … ************** Como outrora, Eu quisera Agora – - Doce quimera – - De novo encontrar Não um brinquedo lindo Que me pudesse encantar… Mas, um pouco de beleza E um pouco de alegria Que viessem aliviar Esta funda tristeza … A minha melancolia … ************ E de manhã de manhãzinha, Devagar, pé-ante-pé, Eu corri à chaminé! … E o meu sapato, Nessa manhã ainda escura, Nessa manhã de frio E esmaecida, Lá estava, nu , vazio, Como anda vazia a nua De ventura A minha vida ! … ************** E a minha alma sismadora, E triste, Triste e sonhadora, Acalentou essa esperança Dos meus tempos de crianç

Florbela Espanca

Saudades! Sim...talvez...e porque não?... Se o nosso sonho foi tão alto e forte Que bem pensara vê-lo até à morte Deslumbrar-me de luz o coração! Esquecer! Para quê?...Ah!como é vão! Que tudo isso, Amor, nos não importe. Se ele deixou beleza que conforte Deve-nos ser sagrado como o pão! Quantas vezes, Amor, já te esqueci, Para mais doidamente me lembrar, Mais doidamente me lembrar de ti! E quem dera que fosse sempre assim: Quanto menos quisesse recordar Mais a saudade andasse presa a mim! Florbela Espanca

AMÁLIA RODRIGUES * Quando Se Gosta de Alguém *

Quando se gosta d'alguém Sente-se por dentro da gente Ainda não percebi bem Ao certo o que é que se sente Quando alguém gosta d'álguém É de nós que não gostamos Perde-se o sono por quem Perdidos de amor andamos Quando alguém gosta d'alguém Anda assim como ando eu Que não ando nada bem Com este mal que me deu Quando se gosta d'alguém É como estar-se doente Quanto mais amor se tem Pior a gente se sente Quando se gosta d'alguém Como eu gosto de quem gosto O desgosto que se tem É desgosto que dá gosto Amália Rodrigues

PARABÉNS FILHA

PAULA Ainda ontem eras criança Bonequinha linda , adorada, Guardamos ainda na lembrança O dia da tua chegada. Primeira filha , quanta alegria, Sentimos ao ter-te no colo Os anos passaram por magia, Hoje és mulher, quem diria, Vamos festejar, com bolo. Trinta velas vais contar, Não são muitas, podes crer, Muitas mais hás-de apagar Outras tantas vais contar, Esperamos estar cá p’ra ver. Neste teu aniversário Desejo sejas feliz Que sigas o teu caminho Com paz, amor e carinho Que sejas muito… Muito FELIZ!! Muitos parabéns querida filha.

ARQUIPÉLAGO Poema de Vitor Cintra

ARQUIPÉLAGO Ilhas dos Açores, Terra dos vulcões, Meigas nos amores, Loucas nas paixões. Frei Gonçalo Velho Fez o que podia, Com bom senso e relho, Por Santa Maria. Se há em S.Miguel, Pouca simpatia, Só quem for cruel Nega ver magia. Ó ilha Terceira, Chamam-te recreio, Deixa! É brincadeira! Nada tem de feio. Diz-se do Faial, Que quaisquer caminhos Vão sempre, afinal, Dar aos Capelinhos. Pico, tão formosa P'lo queijo e "verdelho", Sentes-te ciosa Desse saber velho. Ilha das fajãs, São Jorge dos queijos, Gentes de almas sãs São as que em ti vejo. Ilha Graciosa, Branca de apelido, Dizes-te vaidosa. Faz algum sentido. Pelo bem que cheiras, Pelas tuas cores, Ilha das Caldeiras Dizem que és "das Flores ". Corvo, tão pequena, Ergues-te à distância, Mas neste poema, Tens muita importância. Vitor Cintra "Alegorias "

Para Avivar a Memória

PARA AVIVAR A MEMÓRIA Não esqueças nunca Este poeta Pequenino Que quis somente Sempre Dizer tudo E nunca disse nada! Não esqueças nunca Cada texto Cada verso Cada palavra Cada letra! Não esqueças nunca Como Onde Quando Por que nasceu Cada poema Elogio Confissão Desejo Ânsia Oração E grito! Não esqueças nunca Que na alma de um poeta Há sempre uma musa! Não esqueças nunca Que nas veias de um poeta Corre um sangue vermelho! Não esqueças nunca Que no coração de um poeta Pequenino Inútil Há sempre um lugar Para ti! António (Veleiro)

Para uma Mãe. LÚCIA

PEQUENINA És pequenina e ris… A boca breve É um pequeno idílio cor-de-rosa… Haste de lírio frágil e mimoso! Cofre de beijos feito sonho e neve… Doce quimera que a nossa alma deve Ao Céu que assim te fez tão graciosa! Que nesta vida amarga e tormentosa Te fez nascer como um perfume leve! O ver o teu olhar faz bem à gente… E cheira e sabe, a nossa boca, a flores Quando o teu nome diz, suavemente… Pequenina que a Mãe de Deus sonhou, Que ela afaste de ti aquelas dores Que fizeram de mim isto que sou! Florbela Espanca - Livro de Mágoas .........Lindas as filhas que de ti nasceram. Obrigada pelo amor com que criaste o meu filho. Isabel

Amizade.............. Desconheço o Autor

Que a cada amanhecer do seu dia nasça contigo uma flor. Que cada sorriso teu, seja as pétalas que torna esta flor mais completa. Que cada pensamento positivo, seja o caule .. que a sustenta. Que cada passo para a vitória, seja a terra que alimenta. Que cada gesto teu, seja o sol que fornece energia, e que o brilho dos teus olhos, seja a beleza e a simplicidade desta flor, que me embriaga com o seu perfume e me encanta com seu carisma. Esta flor que desabrocha em seus pensamentos e me transforma em você... Uma flor que vai permanecer intacta às mais diferentes épocas, aos mais inesperados destinos, uma flor que nunca vou permitir morrer. Sabe porque? Porque ela é linda como você e porque todos a chamam de AMIZADE (desconheço o autor)

VIVER COMO EU SEI - Américo Silva

VIVER COMO EU SEI Uma manhã de sol, de vento...ruidosa, Que agita com violência os ramos das árvores, Vento que o suportam angustiadas , indefesas... passíveis... Que o sentem e aceitam...que o vivem sem queixume. São como nós, Que também não podemos sair do caminho que a vida nos escolheu... Pleno de angustias, De medos, De noites de tormenta, De pensamentos apavorados. Á espere que o sol chegue e dissipe a névoa da incerteza. E viver é isto... Um momento de angustia... de incerteza, Um momento de dor... um momento de alegria. Um momento de esperança... um momento de luz. Um momento de prazer... um momento de revolta. Sair da estrada e entrar nela de novo... É achar o nosso destino e aprender a guarda-lo. É escolher na corrida vertiginosa da caminhada, Os momentos que vale a pena guardar. É sair da estrada e entrar nela de novo... É achar o nosso destino e aprender a guarda-lo. É escolher na corrida vertiginosa da caminhada, Os momentos qu

BEIJOS....de Isabel C.

BEIJOS Boca doce,cereja vermelha , abelha no mel do meu pescoço. Lingua/Sonho, em valsa lenta. Lingua bailarina, em pista de dança. Lingua que brinca e explora... Cobra esfomeada que me persegue ágil, sou presa, conquistada. Lingua atrevida, quente e doce, lânguida..., Irrequieta e molhada , Despedurada e louca. Boca que me faz prisioneira. Escutam-se sons , gemidos, Louca perseguição de desejos e paixão, Ecoam cânticos celestiais. São anjos? ! És anjo! Doces os lábios que me beijam, e eu beijo. Isabel C*

Embala o teu Sonho....de ...António Veleiro

EMBALA O TEU SONHO... Embala teu sonho nas mãos E oferece-o no cálice de néctar Tragado cada manhã Cristalino globo do universo Trespassado de todas as cores. Vês o sol que te aquece se ele brilha Lavas-te na água fecunda da chuva Vês teu rosto nas nuvens se escurece E esfregas a pele macia da manhã. Sentes o vento que te corta o rosto Perfumas o aroma da tua sensação Vestes o frio do nevoeiro cerrado E estás pronta para a vida que te habita. Sais a correr cada segundo Porque um segundo depois já é outro Alimentando a fome de energia vital. Cumprimentas este que conheces Beijas aquela que te iguala Na humanidade dentro de todos. Chegas farta Cansada Aborrecida Tramada Encolhida Furiosa Endiabrada Abatida Calada Desiludida Não há tempo para sonhar! Mas de novo Embala teu sonho nas mãos... ... Até que nas mãos frias Teu sonho não se possa embalar. António (Veleiro)

Procuro-Te ... de Isabel C.

De que cor,vou pintar o sabor dos teus lábios, sabor esse. que sei de cor... *** Na imaginação procurei, pintar-te. Na busca de mais cores, tentei... Em vão! Procurei encontrar-te, no traço, então traçado. Cerne do teu ser, Essência , feita, ausência, Presença, Omnipresente. No teu todo, busquei-te. Existes na minha mente, Cosmos onde te encontro, Onde te pinto, Te invento e reencontro Num momento infinito... Perdido no tempo, Onde pertenço, Porque sei que, é lá, Que te sei de cor. Então: - Fecho os olhos, Revejo a tua boca, que me fascina. Teus olhos, da cor dos meus. Encontro-me nos contornos do teu rosto, E novamente sei, Que, sei-te de cor. Isabel C*

Carta ao meu Marido ..... de Isabel C.

Por coincidência ou destino, este texto foi publicado em 21 de Setembro de 2006. No dia 21 de Setembro de 2009, foi decretado o nosso divórcio. A vida tem destas coisas. Isabel C. ....................................................... Esperavas-me deitado quase adormecido. Quando me deitei, abriste os olhos e olhaste-me dizendo: - Gosto tanto desse teu cheirinho a bebé. Essa tua capacidade de ainda notar o meu cheiro, e dizeres o quanto te agrada, deixa-me feliz. Chamares-me pelo meu diminuitivo nos momentos de entrega, reafirmando os teus sentimentos de amor para comigo, é fazeres-me recuar no tempo, esse tempo ido, que tento insistentemente encontrar, como se alguma vez o tivesse perdido. Amor, não vive sem sexo, mas sexo vive sem amor. É cada vez mais comum encontrar alguém disposto a curtir, a viver o momento. Dificil é, encontrar alguém que continue querendo continuar a preservar aquele que foi o seu primeiro amor. Fico a analisar, todas a

O MUNDO QUE EU CRIEI de José Maria Lopes de Araújo

Deram-me a vida, Lançaram-me ao mundo, Um mundo de quimera, Um mundo que não me pertence, Onde o cinismo impera E a mentira vence ! … Por isso, criei Um mundo diferente Deste outro mundo em que vivo: Sem ódios, sem maldade, Sem grilhetas de sofrimento E sem o vento Da impiedade ! Tenho caminhos Floridos, perfumados De amores, de carinhos, De venturas e saudades … E mais claro o sol que me alumia, Sol que irradia A luz do amor … São curtos os meus horizontes … Naufragou a minha dor … Tenho noites de luar… E canta o mar, E cantam as fontes, Quando me ouvem cantar ! ……………………………. No mundo que eu criei, Para viver sonhando, Há belezas irreais… Ilusões e esperança … … E eu só quero e vivo amando Velhos e crianças, Flores e animais ! … ………………………….. O mundo que eu criei É um mundo diferente : Sem ódios, sem maldade, Sem grilhetas de sofrimento, Sem a noite de tormento, E sem o vento Da impiedade ! … José Maria Lopes de

Cecilia Meireles " JARDIM COM FLORES "

Quem me compra um jardim com flores? borboletas de muitas cores, lavadeiras e passarinhos, ovos verdes e azuis nos ninhos? Quem me compra este caracol? Quem me compra um raio de sol? Um lagarto entre o muro a hera, Uma estátua da Primavera? Quem me compra este formigueiro? E este sapo, que é jardineiro? E a cigarra e a sua canção? E o grilinho dentro do chão? (Este é o meu leilão!) [Cecília Meireles in Leilão de Jardim]

" Dá um Abraço? " Autoria de Macedo Junior ( TrovadorPR )

De repente deu vontade de um abraço... Uma vontade de entrelaço, de proximidade... de amizade... sei lá... Talvez um aconchego amigo e meigo, que enfatize a vida e amenize as dores... Que fale sobre os amores, seja afetuoso e ao mesmo tempo forte. Deu vontade, de poder ter saudade de um abraço. Um abraço que eternize o tempo e preencha todo espaço... Mas que faça lembrar do carinho, que surge, devagarinho, da magia da união dos corpos, das auras... sei lá. Lembrar do calor das mãos, acariciando as costas a dizer: - Estou aqui! Lembrar do enlaçar dos braços, envolventes e seguros, afirmando: - Estou com você!. Lembrar da transfusão de forças, ou até da suavidade do momento... sei lá... Então,pensei em como chamar esse abraço: abraço poesia, abraço força,abraço união, abraço suavidade,abraço consolo e compreensão, abraço segurança e justiça, abraço verdade, abraço cumplicidade? Mas o que importa é a magia deste abraço! A fusão de energias, que

Vinicius de Moraes " Para Viver um Grande Amor "

Para viver um grande amor, preciso é muita concentração e muito siso, muita seriedade e pouco riso - para viver um grande amor. Para viver um grande amor, mister é ser um homem de uma só mulher; pois ser de muitas, poxa! é de colher... - não tem nenhum valor. Para viver um grande amor, primeiro é preciso sagrar-se cavalheiro e ser de sua dama por inteiro - seja lá como for. Há que fazer do corpo uma morada onde clausure-se a mulher amada e postar-se de fora com uma espada - para viver um grande amor. Para viver um grande amor, vos digo, é preciso atenção como o "velho amigo", que porque é só vos quer sempre consigo para iludir o grande amor. É preciso muitíssimo cuidado com quem quer que não esteja apaixonado, pois quem não está, está sempre preparado pra chatear o grande amor. Para viver um grande amor, na realidade, há que compenetrar-se da verdade de que não existe amor sem fieldade - para viver um grande amor. Pois quem trai seu amor por vanidade é um desconhe

ÁLVARO DE CAMPOS « O Que Há em Mim é Sobretudo Cansaço »»

O que há em mim é sobretudo cansaço Não disto nem daquilo, Nem sequer de tudo ou de nada: Cansaço assim mesmo, ele mesmo, Cansaço. A subtileza das sensações inúteis, As paixões violentas por coisa nenhuma, Os amores intensos por o suposto alguém. Essas coisas todas. Essas e o que faz falta nelas eternamente; Tudo isso faz um cansaço, Este cansaço, Cansaço. Há sem dúvida quem ame o infinito, Há sem dúvida quem deseje o impossível, Há sem dúvida quem não queira nada - Três tipos de idealistas, e eu nenhum deles: Porque eu amo infinitamente o finito, Porque eu desejo impossivelmente o possível, Porque eu quero tudo, ou um pouco mais, se puder ser, Ou até se não puder ser... E o resultado? Para eles a vida vivida ou sonhada, Para eles o sonho sonhado ou vivido, Para eles a média entre tudo e nada, isto é, isto... Para mim só um grande, um profundo, E, ah com que felicidade infecundo, cansaço, Um supremíssimo cansaço. Íssimo, íssimo. íssimo, Cansaço...

Ninita

PICASSO DE UMA VIDA Pó, vento, sol e água de África, assim sou eu uma mistura, Pó fui e nele me tornarei, Vento que balbucia incoerências, Sol que brilha para quem amo, Água de lágrimas que purificam. Dessa paisagem marcante e gritante, delineada a fogo na minha alma, ficaram em mim marcas indestrutíveis, e tal como na guerreira africana, vive em mim, a coragem, a perseverança e o amor. A coragem para continuar a lutar quando tudo desmorona ao meu redor, quando nada parece dar certo, quando a luz enfraquece, quando o calor desaparece, quando o carinho se transforma em frieza, quando a esperança dá lugar a um vazio. A perseverança para mesmo em altura de desgaste e de decepções, de lutas desiguais , de injustiças, escolher não desistir. O amor, pela terra, pela família, pelos amigos, por tudo o que me rodeia, sentimento forte em mim, muitas vezes escondido debaixo de uma aparente serenidade e controle. Amo sem artifícios, sem calculismo, sem temer sofrer de cada vez que perco nessa

Desejo de Você poema de Isabel C.

Quero ver de novo, No brilho de seus olhos, Toda a intensidade do desejo Que seu olhar contém. Quero sentir, Num toque de seda, Suas quentes e doces mãos Em busca do meu ser, trazendo a sede Que saciará A fome desse amor. Quero seus dedos percorrendo meu corpo . Quero meus seios colados em você. Quero sentir seu corpo tremendo de desejo, Quero sentir de novo seu beijo, Sua boca molhada, fremente colada Quero ter você junto a mim. Quero sua língua brincando na minha, Num beijo melado e molhado Que me faz desejar e sonhar com você. Quero urgência, aqui e agora, Nesta noite fria, Com você se enroscando Em meu corpo ardente, sedento de suas mãos, Sua língua percorrendo meu corpo nu Desejoso de receber a seiva desse amor. Te desejo como nunca, Vem... Vamo-nos amar. Como o sol, ama a lua, Como a areia ama o mar, Como a noite ama o brilho das estrelas, E eu....amo você. Num amor que é eterno, O meu amor, O teu amor O nosso amor. Eu quero você.... Amor!

Mário de Sá Carneiro " Quase"

QUASE Um pouco mais de sol - eu era brasa, Um pouco mais de azul - eu era além. Para atingir, faltou-me um golpe de asa... Se ao menos eu permanecesse aquém... Assombro ou paz? Em vão... Tudo esvaído Num baixo mar enganador de espuma; E o grande sonho despertado em bruma, O grande sonho - ó dor! - quase vivido... Quase o amor, quase o triunfo e a chama, Quase o princípio e o fim - quase a expansão... Mas na minh'alma tudo se derrama... Entanto nada foi só ilusão! De tudo houve um começo... e tudo errou... - Ai a dor de ser - quase, dor sem fim... - Eu falhei-me entre os mais, falhei em mim, Asa que se elançou mas não voou... Momentos de alma que desbaratei... Templos aonde nunca pus um altar... Rios que perdi sem os levar ao mar... Ânsias que foram mas que não fixei... Se me vagueio, encontro só indícios... Ogivas para o sol - vejo-as cerradas; E mãos de herói, sem fé, acobardadas, Puseram grades sobre os precipícios... Num ímpeto difuso de quebranto, Tudo encetei e nada possuí...

AMÉRICO * Terás de Vir à Minha Cabana *

Se queres ouvir a fogueira a arder o vento a soprar na rua a chuva a bater no telhado ...TERÁS DE VIR À MINHA CABANA Se queres ouvir uma canção no ouvido sentir um beijo na nuca uma carícia nos seios erectos ...TERÁS DE VIR À MINHA CABANA Se queres ver o vento a mexer as folhas o silencio no escuro profundo da noite sentir a voz do tempo que passou ...TERÁS DE VIR À MINHA CABANA Se queres acordar com o sol no olhar olhar pela janela o orvalho da lua nas pétalas molhadas das flores abertas ...TERÁS DE VIR À MINHA CABANA Se queres libertar a alma e deixa-la voar libertar o corpo e deixa-lo sentir soltar a mente e deixa-la sonhar ...TERÁS DE VIR À MINHA CABANA Se queres sentir o universo num momento o vulcão que acorda, a lava que corre na cama que te espera... ...TERÁS DE VIR À MINHA CABANA Se queres ouvir cada palavra que te escrevo em cada gota de agua que te molha em cada sorriso quente que soltas ...TERÁS DE VIR À MINHA CABANA AMÉRICO

Camilo Castelo Branco " OS AMIGOS "

Amigos, cento e dez, ou talvez mais, Eu já contei. Vaidades que eu sentia: Supus que sobre a terra não havia Mais ditoso mortal entre os mortais! Amigos, cento e dez! Tão serviçais, Tão zelosos das leis da cortesia Que, já farto de os ver, me escapulia Às suas curvaturas vertebrais. Um dia adoeci profundamente. Ceguei. Dos cento e dez houve um somente Que não desfez os laços quasi rotos. Que vamos nós (diziam) lá fazer? Se ele está cego não nos pode ver. - Que cento e nove impávidos marotos! Camilo Castelo Branco

António de Medeiros Pereira

Ser pobre é possuir Riquezas e não as dar! É ter peito e não sentir Um coração a palpitar! É ter boca e não sorrir; Ter olhos e não olhar. É ter força e não agir; É ter mando e não mandar ... É ter fome e não comer; É ter sede e não beber, Na ânsia de não gastar ... É ter vida e não viver; É ter seiva e fenecer; É ter alma e não amar! ... António de Medeiros Pereira Stª. Maria - Açores

Florbela Espanca " Poetas "

Ai as almas dos poetas Não as entende ninguém; São almas de violetas Que são poetas também. Andam perdidas na vida, Como as estrelas no ar; Sentem o vento gemer Ouvem as rosas chorar! Só quem embala no peito Dores amargas e secretas É que em noites de luar Pode entender os poetas E eu que arrasto amarguras Que nunca arrastou ninguém Tenho alma pra sentir A dos poetas também! Florbela Espanca - in Trocando Olhares