Avançar para o conteúdo principal

Mensagens

A mostrar mensagens de julho, 2007

Tarde de Mais... FLORBELA ESPANCA

Quando chegaste enfim, para te ver Abriu-se a noite em mágico luar; E para o som de teus passos conhecer Pôs-se o silêncio, em volta, a escutar... Chegaste, enfim! Milagre de endoidar! Viu-se nessa hora o que não pode ser: Em plena noite, a noite iluminar E as pedras do caminho florescer! Beijando a areia de oiro dos desertos Procurara-te em vão! Braços abertos, Pés nus, olhos a rir, a boca em flor! E há cem anos que eu era nova e linda!... E a minha boca morta grita ainda: Porque chegaste tarde, ó meu Amor?!... Florbela Espanca

JOSÉ ANDRADE " Uma Ilha é Um Barco "

Uma ilha é um barco Ancorado Que estremece ardentemente Nas tempestades da vida. Uma ilha é um barco Ancorado Na espera desesperante De um destino esquecido. Uma ilha é um barco Ancorado Onde o Mundo Moderno Descansa, fatigado. Uma ilha é um barco Somente Mas um barco celeste Que com o mundo equilibra O sentido da vida E a vida sentida. Uma ilha é um barco Uma ilha é um mundo. Jun/83 José Andrade P. Delgada - Ilha de S.Miguel - Açores Do livro " Semente "

A NOSSA CASA poema de Florbela Espanca

A nossa casa, Amor, a nossa casa! Onde está ela, Amor, que não a vejo? Na minha doida fantasia em brasa Constrói-a, num instante, o meu desejo! Onde está ela, Amor, a nossa casa, O bem que neste mundo mais invejo? O brando ninho aonde o nosso beijo Será mais puro e doce que uma asa? Sonho... que eu e tu, dois pobrezinhos, Andamos de mãos dadas, nos caminhos Duma terra de rosas, num jardim, Num país de ilusão que nunca vi... E que eu moro - tão bom! - dentro de ti E tu, ó meu Amor, dentro de mim... Florbela Espanca

LAMENTO AMOROSO Poema oriundo da Amazónia do Livro * Rosa do Mundo *

Não quero mulher que tenha muito delgadas as pernas, como venenosas serpes, de medo que elas me apertem. Não quero mulher que tenha muito comprido o cabelo, um molho de ervas espesso onde acaso eu me perca. Quando sem vida me veres, sobre o meu corpo não choraes; deixa que a águia ao ver-me seja a única que me chore. Quando sem vida me veres, deita-me á floresta negra: o tatu há-de vir ver a cova onde meter-me Versão : Herberto Helder

AS PUTAS DA AVENIDA poema de Fernando Assis Pacheco

Eu vi gelar as putas da Avenida ao griso de Janeiro e tive pena do que elas chamam em jargão a vida com um requebro triste de açucena. Vi-as às duas e às três falando como se fala antes de entrar em cena o gesto já compondo à voz de mando do director fatal que lhes ordena. Essa pose de flor recém- cortada que para as mais batidas não é nada senão fingirem lírios de Lorena Mas a todas o griso ia aturdindo e eu que do trabalho vinha vindo calçando as luvas senti pena. Do Livro * Rosa do Mundo *