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Mensagens

A mostrar mensagens de maio, 2009

FERNANDO MONTEIRO DA CÂMARA PEREIRA - do livro " MAR BRANCO "

NO TEU CORPO QUENTE Regressei ao horizonte no teu corpo quente Penetrei o meu ser no teu ser ansioso És o tudo…sou o tudo… És o nada, também Toquei no teto-universo… e encontrei-me em ti Já posso partir para o horizonte Para o meu gene perdido Que sou eu Tive o tudo tenho o nada Sou só …. o regressado Vivo suspenso do teu corpo quente Vivo suspenso no teu corpo quente Vivo suspenso no teu corpo quente. Fernando Monteiro da Câmara Pereira - Dez.1980 (Um açoriano nascido Mariense )

* Quero Acabar Entre Rosas ... * poema de Álvaro de Campos

Quero acabar entre rosas, porque as amei na infância. Os crisântemos de depois, desfolhei-os a frio. Falem pouco, devagar. Que eu não oiça, sobretudo com o pensamento. O que quis? Tenho as mãos vazias, Crispadas febrilmente sobre a colcha longínqua. O que pensei? Tenho a boca seca, abstracta. O que vivi? Era tão bom dormir! Álvaro de Campos, in "Poemas" Heterónimo de Fernando Pessoa

* Femina * de Soares Feitosa

Não lavei os seios pois tinham o calor da tua mão. Não lavei as mãos pois tinham os sons do teu corpo. Não lavei o corpo pois tinha os rastos dos teus gestos; tinha também, o meu corpo, a sagrada profanação do teu olhar que não lavei. Nem aqueles lençóis, não os lavei, nem os espelhos, que continuam onde sempre estiveram: porque eles nos viram cúmplices, e a paixão, no paraíso, parece que era. Lavei, sim, lavei e perfumei a alma, em jasmim, que é tua, só tua, para te esperar como se nunca tivesses ido a nenhum lugar: donde apaguei todas as ausências que apaguei ao teu olhar. SOARES FEITOSA

Desperta, Amor....poema de JOSÉ MARIA LOPES DE ARAUJO

DESPERTA, AMOR São teus meus versos, versos que escrevi, À luz da Lua, em noites estivais, A reviver as horas que vivi … Sonhos de amor que não voltaram mais. Rolaram meses, anos, na voragem Do tempo que já tudo destroçou … Somente, emoldurada, a tua imagem, Dentro em minha alma, estática, ficou! Por que não vens, mulher, por que não vens Dizer-me que me queres tanto, enfim, Como então me querias, se ainda tens O coração a palpitar por mim? Por que motivo tentas esconder, No olhar furtivo, o amor que te atormenta? Não turves a alegria de viver, Que, assim, da própria vida se afugenta? E dá-me as tuas mãos, as mãos que, um dia, Afagaram meu rosto, ternamente … Desperta, amor, que a vida é agonia Dos céleres minutos do presente! … José Maria Lopes de Araújo do livro REMOS PARTIDOS

CADA COISA ....poema de Ricardo Reis (Fernando Pessoa)

Cada coisa a seu tempo tem seu tempo. Não florescem no inverno os arvoredos, Nem pela primavera Têm branco frio os campos. Á noite, que entra, não pertence, Lídia, O mesmo ardor que o dia nos pedia. Com mais sossego amemos A nossa incerta vida. À lareira, cansados não da obra Mas porque a hora é a hora dos cansaços, Não puxemos a voz Acima de um segredo, E casuais, interrompidas, sejam Nossas palavras de reminiscência (Não para mais nos serve A negra ida do Sol) — Pouco a pouco o passado recordemos E as histórias contadas no passado Agora duas vezes Histórias, que nos falem Das flores que na nossa infância ida Com outra consciência nós colhíamos E sob uma outra espécie De olhar lançado ao mundo. E assim, Lídia, à lareira, como estando, Deuses lares, ali na eternidade, Como quem compõe roupas O outrora compúnhamos Nesse desassossego que o descanso Nos traz às vidas quando só pensamos Naquilo que já fomos, E há só noite lá fora. Ricardo Reis ( Fern

SINTO poema de Vitor Cintra

Sinto crescer a vontade De perceber se o que dizes, Entre risadas felizes, É ou não é a verdade, Ou só disfarça deslizes. Sinto crescer o desejo De te cingir nos meus braços, P'ra te prender com abraços, E arrancar-te num beijo Todos os teus embraraços. Sinto crescer a ideia De que, bem mais do que mostras, São bem reais as propostas Duma visão que incendeia Esse viver, de que gostas. VITOR CINTRA Do Livro " Pedaços do Meu Sentir" Á venda nas livrarias

AMOR QUE MORRE poema de FLORBELA ESPANCA

O nosso amor morreu... Quem o diria? Quem o pensara mesmo ao ver-me tonta, Ceguinha de te ver, sem ver a conta Do tempo que passava, que fugia! Bem estava a sentir que ele morria... E outro clarão, ao longe, já desponta! Um engano que morre... e logo aponta A luz doutra miragem fugidia... Eu bem sei, meu Amor, que pra viver São precisos amores, pra morrer, E são precisos sonhos pra partir. E bem sei, meu Amor, que era preciso Fazer do amor que parte o claro riso De que outro amor impossível que há-de vir! FLORBELA ESPANCA

A RUA DOS CATAVENTOS de Mário Quintana

Da vez primeira em que me assassinaram, Perdi um jeito de sorrir que eu tinha. Depois, a cada vez que me mataram, Foram levando qualquer coisa minha. Hoje, dos meu cadáveres eu sou O mais desnudo, o que não tem mais nada. Arde um toco de Vela amarelada, Como único bem que me ficou. Vinde! Corvos, chacais, ladrões de estrada! Pois dessa mão avaramente adunca Não haverão de arracar a luz sagrada! Aves da noite! Asas do horror! Voejai! Que a luz trêmula e triste como um ai, A luz de um morto não se apaga nunca! Mario Quintana

O AMOR poema de FERNANDO PESSOA

O Amor O amor, quando se revela, Não se sabe revelar. Sabe bem olhar p'ra ela, Mas não lhe sabe falar. Quem quer dizer o que sente Não sabe o que há de *dizer. Fala: parece que mente Cala: parece esquecer Ah, mas se ela adivinhasse, Se pudesse ouvir o olhar, E se um olhar lhe bastasse Pr'a saber que a estão a amar! Mas quem sente muito, cala; Quem quer dizer quanto sente Fica sem alma nem fala, Fica só, inteiramente! Mas se isto puder contar-lhe O que não lhe ouso contar, Já não terei que falar-lhe Porque lhe estou a falar.. Fernando Pessoa

" PEDAÇOS DO MEU SENTIR "
lançamento do livro de
VITOR CINTRA

No próximo dia 16 de Maio, às 19,00 horas, no Auditório - Campo Grande nº 56, em Lisboa - será a apresentação deste novo livro de poemas, publicado sob a chancela da editora «Temas Originais, Lda». O livro, em cuja capa se reproduz uma tela da pintora Alvani Borges, tem Prefácio do poeta António Paiva e será apresentado pelo poeta Xavier Zarco.

O QUE HÁ ...de Álvaro de Campos

O que há O que há em mim é sobretudo cansaço — Não disto nem daquilo, Nem sequer de tudo ou de nada: Cansaço assim mesmo, ele mesmo, Cansaço. A subtileza das sensações inúteis, As paixões violentas por coisa nenhuma, Os amores intensos por o suposto em alguém, Essas coisas todas — Essas e o que falta nelas eternamente —; Tudo isso faz um cansaço, Este cansaço, Cansaço. Há sem dúvida quem ame o infinito, Há sem dúvida quem deseje o impossível, Há sem dúvida quem não queira nada — Três tipos de idealistas, e eu nenhum deles: Porque eu amo infinitamente o finito, Porque eu desejo impossivelmente o possível, Porque quero tudo, ou um pouco mais, se puder ser, Ou até se não puder ser... E o resultado? Para eles a vida vivida ou sonhada, Para eles o sonho sonhado ou vivido, Para eles a média entre tudo e nada, isto é, isto... Para mim só um grande, um profundo, E, ah com que felicidade infecundo, cansaço, Um supremíssimo cansaço, Íssimo, íssimo, íssimo, Cansa

DOR DA SOLIDÃO de Antonio Manoel Abreu Sardenberg

Não existe dor maior Que a dor da solidão... É dor cruel e perversa Que não aceita conversa E nem mesmo explicação! É dor do só, do sozinho, É carência de carinho, Seu sintoma é a paixão. E essa dor tão doída Que tanto maltrata a gente Chega assim tão de repente Sem sequer bater na porta. Para ela pouco importa Se está matando o doente, Se a "Inês é quase morta". É uma dor que aniquila, Que castiga, que maltrata, É mais forte que a tequila Mais ardente que a cachaça. É pior que a dor que tomba, Mais cruel que a dor que mata. Antonio Manoel Abreu Sardenberg