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A mostrar mensagens de 2008

O QUE NÃO SE RECORDA poema de Luis Rosales ( Espanha)

O QUE NÃO SE RECORDA Para voltar a ser feliz era somente preciso ser hábil ao recordar. Buscávamos dentro do coração nossas lembranças. A alegria talvez não tenha história. Ao olhar para dentro de nós dois ficávamos calados. Teus olhos eram como um rebanho quieto que seu tremor reúne sob a sombra do álamo. O silêncio pôde mais que o esforço. Anoitecia para sempre no céu. Não pudemos voltar a recordá-lo. No mar a brisa era um menino cego. LUIS ROSALES

* TUDO É FOI * poema de António Gedeão

Fecho os olhos por instantes. Abro os olhos novamente. Neste abrir e fechar de olhos já todo o mundo é diferente. Já outro ar me rodeia; outros lábios o respiram; outros aléns se tingiram de outro Sol que os incendeia. Outras árvores se floriram; outro vento as despenteia; outras ondas invadiram outros recantos de areia. Momento, tempo esgotado, fluidez sem transparência. Presença, espectro da ausência, cadáver desenterrado. Combustão perene e fria. Corpo que a arder arrefece. Incandescência sombria. Tudo é foi. Nada acontece. ANTÓNIO GEDEÃO

Alma Minha Gentil Que Partiste " LUIS DE CAMÕES "

Alma minha gentil, que te partiste Tão cedo desta vida, descontente, Repousa lá no Céu eternamente, E viva eu cá na terra sempre triste. Se lá no assento etéreo, onde subiste, Memória desta vida se consente, Não te esqueças daquele amor ardente Que já nos olhos meus tão puro viste. E se vires que pode merecer-te Alguma cousa a dor que me ficou Da mágoa, sem remédio, de perder-te, Roga a Deus, que teus anos encurtou, Que tão cedo de cá me leve a ver-te, Quão cedo de meus olhos te levou. Luís de Camões

" DESPERTAR " poema de Vitor Cintra

Ânsia de amor, quando assalta, Faz com que o sonho esquecido Ganhe, de novo, sentido, Como a essência, que exalta. Ímpeto, de maré alta, Arte, de leito escondido, Dom, de sabor proibido, Fogo, paixão, que ressalta. Perda, carência, dor, falta, Sombra, dum tempo perdido, Chama, prazer reprimido; Onda de choque, ribalta, Corpos, vertigem, gemido, Frémito desinibido. VITOR CINTRA do livro " MURMÚRIOS "

Quando se Gosta de Alguém de
* AMÁLIA RODRIGUES *

Quando se gosta d'alguém Sente-se dentro da gente Ainda não percebi bem Ao certo que é que se sente Quando se gosta d'alguém É de nós que não gostamos Perde-se o sono por quem Perdidos de amor andamos Quando alguém gosta d'alguém Anda assim como ando eu Que não ando nada bem Com este mal que me deu Quando se gosta d'alguém É como estar-se doente Quanto mais amor se tem Pior agente se sente Quando se gosta d'alguém Como eu gosto de quem gosto O desgosto que se tem É desgosto que dá gosto. AMÁLIA RODRIGUES

ÚLTIMO SONETO poema de Mário de Sá-Carneiro

ÚLTIMO SONETO Que rosas fugitivas foste ali! Requeriam-te os tapetes - e vieste ... - Se me dói hoje o bem que me fizeste, É justo, porque muito te devi. Em que seda de afagos me envolvi Quando entraste, nas tardes que apareceste! Como fui de percal quando me deste Tua boca a beijar, que mordi... Pensei que fosse o meu o teu cansaço - Que seria entre nós um longo abraço O tédio que, tão esbelta, te curvava... E fugiste...Que importa? Se deixaste A lembrança violeta que animaste, Onde a minha saudade a Cor se trava? ... MÁRIO DE SÁ-CARNEIRO

" UMA CHAMA NÃO CHAMA A MESMA CHAMA " poema de E.M.de Melo e Castro

Uma chama não chama a mesma chama há uma outra chama que se chama em cada chama que chama pela chama que a chama no chamar se incendeia. Um nome não nome o mesmo nome Um outro nome nome que nomeia em cada nome o meio pelo nome que o nome no nome se incendeia. Uma chama um nome a mesma chama há um outro nome que se chama em cada nome o chama pelo nome que a chama no nome se incendeia Um nome uma chama o mesmo nome há uma outra chama que nomeia em caa chama o nome que se chama o nome que se chama se incendeia. E.M de Melo e Castro

* OLHOS TRISTES *poema de Vitor Cintra

Olhos tristes, senhora, Os vossos. Tristes de mais, Olhos de dor, de quem chora. Senhora, porque chorais? Se essa tristeza, que mora Nos olhos, nos dá sinais Da mágoa, que vos devora E, a medo, mal disfarçais, Mostrai-nos então, se agora, Dos olhos, porque me olhais, Se vai a tristeza embora, Ou quedam tristes, iguais. VITOR CINTRA do livro " MURMÚRIOS "

"Quando me Amei de Verdade " de Kim McMillen & Alison McMillen

Quando me amei de verdade, pude compreender que em qualquer circunstância, eu estava no lugar certo, na hora certa. Então pude relaxar. Quando me amei de verdade, pude perceber que o sofrimento emocional é um sinal de que estou indo contra a minha verdade. Quando me amei de verdade, parei de desejar que a minha vida fosse diferente e comecei a ver que tudo o que acontece contribui para o meu crescimento. Quando me amei de verdade, comecei a perceber como é ofensivo tentar forçar alguma coisa ou alguém que ainda não está preparado - inclusive eu mesma. Quando me amei de verdade, comecei a me livrar de tudo que não fosse saudável. Isso quer dizer: pessoas, tarefas, crenças e - qualquer coisa que me pusesse pra baixo. Minha razão chamou isso de egoismo. Mas hoje eu sei que é amor-próprio. Quando me amei de verdade, deixei de temer meu tempo livre e desisti de fazer planos. Hoje faço o que acho certo e no meu próprio ritmo. Como isso é bom! Quando me amei de verdade, desisti de querer ter

MÃE de Almada Negreiros

Mãe! Vem ouvir a minha cabeça a contar histórias ricas que ainda não viajei! Traze tinta encarnada para escrever estas coisas! Tinta cor de sangue, sangue! verdadeiro,encarnado! Mãe! Passa a tua mão pela minha cabeça! Eu ainda não fiz viagens e a minha cabeça não se lembra senão de viagens! Eu vou viajar. Tenho sede! Eu prometo saber viajar. Quando voltar é para subir os degraus da tua casa, um por um. Eu vou aprender de cor os degraus da nossa casa. Depois venho sentar-me a teu lado. Tu a coseres e eu a contar-te as minhas viagens, aquelas que eu viajei, tão parecidas com as que não viajei, escritas ambas com as mesmas palavras. Mãe! Ata as tuas mãos às minhas e dá um nó cego muito apertado! Eu quero ser qualquer coisa da nossa casa. Como a mesa. Eu também quero ter um feitio, um feitio que sirva exatamente para a nossa casa, como a mesa. Mãe! Passa a tua mão pela minha cabeça! Quando passas a tua mão na minha cabeça é tudo tão verdade! ALMADA NEGREIROS

Espero-te Sem Te Esperar de MARIA JOÃO L.

Sei como pode ser difícil o outro lado da viagem Onde reinam tuas imensas razões, E onde habitam as minhas profundas emoções. Percorremos a Terra, caminhando em labirintos de cores e cheiros diferentes. Será que a melodia que nos uniu, pode ser poderosa e vencer a tua multidão ? Mas eu não quero conquistar ninguém... Mas, também não quero nada que te possa magoar, Se os ANJOS me revelassem, que nosso abraço nasceu para ser apenas sonhado, Eu guardava-te para sempre escondido no meu coração. Sempre deixei que fosses tu a comandar este amor... Tens uma vida lindamente merecida e esculpida de razões... Sei compreender Aprendi tanto de amor a doer Sei continuar a sonhar... E neste sentir maior assim espero-te sempre sem te esperar ... Maria João L. (Texto que me foi enviado e que achei muito bonito, partilho-o aqui)

SOLIDÃO de Afonso Henriques

Saudade é solidão acompanhada, É quando o amor ainda não foi embora, Mas o amado já... Saudade é amar um passado que ainda não passou, É recusar um presente que nos machuca, É não ver o futuro que nos convida... Saudade é sentir que existe o que não existe mais... Saudade é o inferno dos que perderam, É a dor dos que ficaram para trás, É o gosto de morte na boca dos que continuam... Só uma pessoa no mundo deseja sentir saudade: Aquela que nunca amou. E esse é o maior dos sofrimentos: Não ter por quem sentir saudades, passar pela vida e não viver. O maior dos sofrimentos é nunca ter sofrido. AFONSO HENRIQUES

" A Dor Que Dói Mais " de MARTHA MEDEIROS

Em alguma outra vida, devemos ter feito algo de muito grave, Para sentirmos tanta saudade... Trancar o dedo numa porta dói. Bater com o queixo no chão dói. Torcer o tornozelo dói. Um tapa, um soco, um pontapé , doem. Dói bater a cabeça na quina da mesa, Dói morder a língua, dói cólica, cárie e pedra no rim. Mas o que mais dói é a saudade. Saudade de um irmão que mora longe, Saudade de uma cachoeira da infância, Saudade do gosto de uma fruta que não se encontra mais, Saudade do pai que morreu, do amigo imaginário que nunca existiu, Saudade de uma cidade, Saudade da gente mesmo, que o tempo não perdoa. Doem estas saudades todas. Mas a saudade mais dolorida é a saudade de quem se ama. Saudade da pele, do cheiro, dos beijos. Saudade da presença, e até da ausência consentida. Você podia ficar no quarto e ela na sala, sem se verem, mas sabiam-se lá. Você podia ir para o dentista e ela pra faculdade, mas sabiam-se onde. Você podia ficar o dia sem vê-la, ela sem vê-lo, mas sabiam-se amanhã. Co

Não Sei Nada...... poema de LG

Pergunto a mim próprio se existo, ou se apenas resisto às mais doces tempestades; poço de mentiras e verdades em que teimosamente insisto. Pergunto a mim mesmo se valho, ou se apenas resvalo em delícias planas; simples desflorador de camas, ou singela gota de orvalho.. Pergunto a mim próprio se penso, ou se só lanço a confusão; se é líquida resignação, ou os meus próprios medos venço.. Pergunto a mim mesmo se lido, ou mergulho na preguiça; se lidero a justiça, ou se por ela fui vencido.. Pergunto a mim próprio se vivo tal como a vida se imagina, se antevê ou se alucina, ou sou dela apenas cativo.. Pergunto, por fim, a mim próprio, se perguntar a mim mesmo sei, ou se, pelo contrário, herdei o dom de ser um ser impróprio. . Poema de Luis Gabriel

OCIDENTE-ORIENTE poema de Adonis ( 'Ali Ahmad Sa'Id)

Era algo que se estendia no túnel da História, Algo enfeitado e minado Levando seu menino de nafta envenenado, Por venenoso mercador cantado; Era um Oriente - criança que pede, Grita " Socorro !" E o Ocidente, seu senhor nunca errado - Mudado está agora este mapa; O Universo em chamas, Oriente - Ocidente : um só Túmulo Em cinza os tem juntado ...

" Já um Pouco de Vento se Demorara " poema de VITORINO NEMÉSIO

Já um pouco de vento se demora; Já sua força vale a de uma mão Nestes papéis que trago para fora, Que o campo dá certeza e solidão. O calor fez a casa mais delgada, Agora colho a tarde: a vida não. Sou a macieira carregada: De palavras a mais cobri o chão. Árvores há no outono que conhecem O toque e ardor das folhas de amanhã E esperando-as, altas, adormecem. Com espaço e vento nunca a vida é vã. Eu volto à mão do outono em meus papéis. Penso e, indiscreto, o ar remove Estas imagens cruéis Que a minha vida comove VITORINO NEMÉSIO

AMIÚDE poema de Raul de Carvalho

AMIÚDE No vale dos afectos ninguém está seguro: Mingua a lembrança, Esquece-se o rosto, Retorna-se ao eu, Os lábios secam, as palavras dormem, os sonhos dispersam-se, a presença ausenta-se, há o lago de que não se vê o fundo - E apenas as pequenas ilusões - um café, o cigarro, a limonada - imitam dois corações unidos ... Raul de Carvalho

O BANHO DOS POBRES poema de Tonino Guerra ( Itália )

O BANHO DOS POBRES Os pobres da minha terra tomam banho no rio e estão de molho na água um dia inteiro. Ali há muito ar muito sol muitos borrifos. Voltam quando é noite Encontram outra vez as velhas casas com as cabeças dos gatos aos janelos e toda a água nos cântaros represa.

EU NÃO SEI AO CERTO ... poema de Jaime Sabines ( México )

EU NÃO SEI AO CERTO... Eu não sei ao certo, mas suponho que uma mulher e um homem um dia se amam, vão ficar sozinhos pouco a pouco, algo em seu coração lhes diz que estão sós, sós sob a terra se penetram, vão-se matando um ao outro. Tudo se faz em silêncio. Como a luz se faz dentro dos olhos. O amor une corpos. Em silêncio vão-se enchendo um ao outro. Qualquer dia acordam sobre braços; pensam então que sabem tudo. Vêem-se nus e sabe, tudo. ( Eu não sei ao certo. Suponho-o ) JAIME SABINES

CANÇÃO poema de ANTÓNIO BOTTO

CANÇÃO Se fosses luz serias a mais bela De quantas há no mundo : - a luz do dia! -Bendito seja o teu sorriso Que desata a inspiração Da minha fantasia! Se fosses flor serias o perfume Concentrado e divino que perturba O sentir de quem nasce para amar! - Se desejo o teu corpo é porque tenho Dentro de mim A sede a e vibração de te beijar! Se fosses água - música da terra, Serias água pura e sempre calma! - Mas de tudo o que possa ser na vida, Só quero, meu amor, que sejas alma! ANTÓNIO BOTTO

NÃO GOSTO

Não gosto de meias palavras. Prefiro o silêncio aos gritos ensurdecedores das pessoas com quem tenho de falar e que não me dizem nada. Não gosto de engolir palavras que não mereço, nem de desculpas esfarrapadas. Não gosto de pessoas que só querem o que não têm e quando têm o que querem, não sabem do que gostam. Não gosto de ouvir, talvez, não sei, sei lá, depois vê-se, tem paciência. Não gosto que me peçam desculpa. Não gosto que me prometam e não cumpram, de encontros desmarcados e de esperas infinitas. Não gosto de gritos, de confusões, de gestos teatrais e dramatismos. Não gosto de intrigas e de histórias mal contadas, não gosto de meias verdades. Não gosto de palavras sem sentido e de falar por falar. Não gosto que falem comigo e não me olhem nos olhos. Não gosto de palavras arrastadas e de segredos mal guardados. Não gosto de pessoas que andam de nariz empinado e se acham melhores que os outros. Que pensam que sabem tudo e que falam com arrogância, que têm um ar de gozo, mas que c

Filha de Um Amor Proibido - Isabel Valente

Os jovens de hoje não sabem que, na minha geração, haviam crianças nascidas fora do casamento, e em cujo registo pessoal constava o nome da Mãe, tendo por pai, um “ Pai Incógnito”. Estas crianças, eram estigmatizados como, os filhos do pecado, da vergonha, os filhos da outra. Eram os filhos fora do casamento, os bastardos. É que o registo obrigatório com nome de pai é recente, e eu já sou "Cota". Para a nova geração onde todos à nascença são registados com o nome de mãe e de um pai, verdadeiro ou não, não lhes é fácil entender o que é viver com o facto diário de ser filha de” pai incógnito”. Tendo eu passado por essa experiência, não me é difícil explicar o que é ser filha de Pai Incógnito. Hoje na maioria das Repartições Públicas todas achamos uma grande maçada, ter de preencher formulários, para mim, passou a ser, uma bênção. Em alguns desses formulários tinha de mencionar o nome de Mãe e de Pai, então lá vinha o tormento ---Pai Incógnito --- . Ist

SAUDADE DA PROSA poema de Manuel António Pina

Poesia, saudade da prosa; escrevia "tu", escrevia "rosa"; mas nada me pertencia, nem o mundo lá fora nem a memória, o que ignorava o que sabia. E se regressava oelo mesmo caminho não encontrava senão palavras e lugares vazios: símbolos, metáforas, o rio não era rio nem corria e a própria morte era um problema de estilo. Onde é que eu já lera o que sentia, até a minha alheia melancolia? MANUEL ANTÓNIO PINA

SÓ poema de José Maria Lopes de Araújo

SÓ Ai, se eu pudesse evadir-me De mim mesmo, Desta prisão Que me põe grades, no coração ... Se eu pudesse partir, correr, Caminhar sem norte, Correr , a esmo , Na floresta dos meus sonhos , E colher rosas orvalhadas E alvas hortênsias Nas bermas das estradas ... Mas correr, cantando Hinos de louvor à vida , Pelo odor Que se emana da natureza Pelo bem da Humanidade, Pela pétala caída ... Pela beleza Da flor Que nos enche a alma e o olhar De alacridade E cor ! ... E continuo a viver , Encarcerado , Mesmo dentro de mim ... Esmaga-me o silêncio Das coisas, das pessoas ... E a labareda da loucura Continua crescendo, no incêndio Da floresta dos meus sonhos ! Ai, se eu pudesse evadir-me Das grades do meu coração ... Não mais sofreria, Como sofro ... Não ! Não ! Agora, já tudo é cinza ... Já tudo é pó .. E recomeço a sentir-me, no mundo, Isolado...Só...Muito só... Cada vez mais só ! .... JOSÉ MARIA LOPES DE ARAÚJO

" VAZIO.... " de Isabel Valente

Vida que é vivida, vazia de afectos, palavras, carinhos, não pode ser vida, para ser vivida ,apenas sozinhos. Se a vida nos dá : Diálogo dos silêncios. Solidão de mãos dadas, É vida vazia, apenas vivida, mesmo acompanhada. São cacos colados, corações partidos, Sentimentos castrados, Sonhos proibidos. São vidas sem cor, Sem gestos de amor Apenas fachada, É vida de quem, amar pouco sabe, ou apenas nada! Viver, por viver, apenas num mundo, feito fantasia, mil vezes sofrer, a ter que morrer um pouco cada dia. Isabel Valente

NOSTALGIA

(Foto da autoria de Ricardo Chaves ) O texto abaixo é uma transcrição do publicado no blog do RICARDO CHAVES aqui: RCHAVES Porque me fez recuar à ilha de S.Maria de outros tempos, e porque felizmente ainda hoje é possivel ás nossas crianças (da ilha), viverem um pouco assim, " em liberdade ",aqui deixo este texto que me deu imenso gosto ler, que tenho e tenho outro tanto em partilhar . Nascidos antes de 1986; De acordo com os reguladores e burocratas de hoje, todos nós que nascemos nos anos 60, 70 e princípio de 80 não devíamos ter sobrevivido até hoje, porque: -As nossas caminhas de bebé eram pintadas com cores bonitas em tinta à base de chumbo que nós muitas vezes lambíamos e mordíamos. -Não tínhamos frascos de medicamento com tampas “à prova de crianças”, os fechos nos armários e podíamos brincar com as panelas. -Quando andávamos de bicicleta, não usávamos capacetes. -Quando éramos pequenos viajávamos em carros sem cintos e “airbags” - viajar à frente era um bónus. -Bebí

ELOGIO AO AMOR de Miguel Esteves Cardoso

Ou de como eu costumo dizer: - O Amor é como o Chocolate, não tem de fazer sentido. Há coisas que não são para se perceberem. Esta é uma delas. Tenho uma coisa para dizer e não sei como hei-de dizê-la. Muito do que se segue pode ser, por isso, incompreensível. A culpa é minha. O que for incompreensível não é mesmo para se perceber. Não é por falta de clareza. Serei muito claro. Eu próprio percebo pouco do que tenho para dizer. Mas tenho de dizê-lo. O que quero é fazer o elogio do amor puro. Parece-me que já ninguém se apaixona de verdade. Já ninguém quer viver um amor impossível. Já ninguém aceita amar sem uma razão. Hoje as pessoas apaixonam-se por uma questão de prática. Porque dá jeito. Porque são colegas e estão ali mesmo ao lado. Porque se dão bem e não se chateiam muito. Porque faz sentido. Porque é mais barato, por causa da casa. Por causa da cama. Por causa das cuecas e das calças e das contas da lavandaria. Hoje em dia as pessoas fazem contratos pré-nupciais, discutem tudo de

* INTERROGAÇÃO * poema de José Maria Lopes de Araújo

Não tentes afastar-me do meu rumo, Que eu bem sei o que quero e onde vou... Não lembres o passado porque é fumo Duma chama que, há muito, se apagou ! Da labareda ardente só ficou A cinza da quimera e nada mais ... Do meu passado tudo se queimou ... E apenas restam meus doridos ais ! E deixem-me ficar, assim sozinho, Com todo o sofrimento, no caminho Que me há-de confundir ao Redentor ... E pensar, meditar profundamente : - Por que motivos alimenta a gente Invejas, ódio, em vez de Paz e Amor ? JOSÉ MARIA LOPES DE ARAÚJO do Livro " Outono da Vida "

O Teu Corpo poema de ÂNGELO GOMES

Deixa-me acordar, sorrir, esbracejar Em cada alvorada de sonos inquietos Pensamentos lentos, lista de afectos Tua voz sentir, acto de inventar Desenho o teu corpo enquanto desperto De suave tecido em mãos de ternura Que beijo e rebeijo com tanta doçura E amo e possuo como se estivesses perto Que venham sóis, chuvas ou tormentas Que toquem os sinos abordando rebates Que caiam ferros, pedras, alicates Que as bocas estejam secas e sedentas Oh... como adoro o teu corpo de frescura Razão das razões... toque de magia Que invade o meu, deixando nostalgia Saudade intensa, retrospectiva pura Corpos colados, invasão das mentes Selados em lençóis ou calmas areias Torcendo, mexendo, como centopeias Acabando molhados, sôfregos, ardentes Adoro o teu corpo de sonho e desejo... Suporte de um todo que vejo e revejo. ÂNGELO GOMES Publicado no Recanto das Letras em 03/09/2006 Código do texto: T232095

TARDE...poema de Espínola Mendonça

Partiste no explendor da mocidade, E esperei que voltasses novamente. Escrevias dizendo: _Brevemente..._, E esperei uma longa eternidade. Anos depois tu voltas, finalmente; E a mim mesmo pergunto se é verdade. Porque sinto mais viva esta saudade Do que no tempo em que estiveste ausente Em vez d'essa alegria tão sonhada, Olhámo-nos, os dois, sem dizer nada. E cada qual de nós ficou mais triste. Adivinhaste... e eu adivinhei: Perguntas-me, talvez: _Porque voltei?_ E eu só te sei dizer: _Porque partiste? Espínola de Mendonça ( 1891-1944 )

APETECE-ME poema de Ângelo Gomes

APETECE-ME , beber na tua boca, o veneno que mata os meus desejos Presos nas amarras do pensamento, Que nem o vento Soube levar a paragens longínquas… APETECE-ME . Mordiscar os dedos dos teus cabelos, Que nem torturados, Confessam pecados…………… APETECE-ME , atravessar os rios do teu corpo, Que nem leito preguiçoso, Bebendo gota a gota em descarada timidez, o suor da tua nudez…….. APETECE-ME , arrancar pedaços de ti, que nem pétalas de pálidas flores, que por amores têm apenas a maldade de encobrir a falsa virgindade………. APETECE-ME , rasgar as tuas entranhas E roubar-te o grito do prazer, Que nem loucuras tamanhas Fizeram orgasmos assim, E por fim, APETECE-ME , violar o teu abraço, Para no meu cansaço Saborear o mel Que escorre da tua pele, Arrepiado…. Saciado……. APETECE-TE???? Diz….. APETECE-ME , sim…… APETECE-ME SER FELIZ ………. Ângelo Gomes

O TEU OLHAR poema de Ângelo Gomes

Que é feito do olhar que me tirava das trevas? Que é feito da doçura que me curava tédios? Que é feito dos prédios alicerçados em ti…. Que é feito de mim… que é feito do sorriso, Do cristal, das margens do rio que chora e não ri? Que falta me fazem os teus olhos de seda !… Que nostalgia, que vácuo, que varanda sem horizontes... Que fontes secas, que vida sem forma nem conteúdo !... Que Entrudo de máscaras que disfarçam as mágoas…. Que fráguas, que colinas íngremes, que montes !... O teu olhar !... a suavidade cremosa das tuas palavras … Que travas … que lavas como quem descobre pepitas de ouro … Que colocas a soro na convalescença dos tempos !.... O teu olhar !... a tua intensa vontade de viver … Que é feito da generosidade que te eleva como ser? Ângelo Gomes

* Como Eu Te Amo * poema de Elizabeth Barrett Browning

Amo-te quanto em largo, alto e profundo Minh’alma alcança quando, transportada, Sente, alongando os olhos deste mundo, Os fins do Ser, a Graça entressonhada. Amo-te em cada dia, hora e segundo: À luz do sol, na noite sossegada. E é tão pura a paixão de que me inundo Quanto o pudor dos que não pedem nada. Amo-te com o doer da velhas penas; Com sorrisos, com lágrimas de prece, E a fé da minha infância, ingénua e forte. Amo-te até nas coisas mais pequenas. Por toda a vida. E, assim Deus o quisesse, Ainda mais te amarei depois da morte. Elizabeth Barrett Browning

* Indelével Saudade * poema de EUCLIDES CAVACO

Eu choro nos meus versos a saudade Que é dos ausentes a eterna companheira Como parte do seu ser que sempre há-de Ser uma angústia que alimenta a vida inteira. Deixei chorar minha caneta de amargura Porque sentiu do seu poeta a emoção Viu que as palavras nada tinham de loucura Eram ditadas dum plangente coração... E a caneta vai chorando em cada dia Da minha mão sentindo a fragilidade Porque ela entende dum ausente a agonia!... São os meus versos portadores dessa ansiedade Feita palavra...É filha da nostalgia À qual nós demos o nome de Saudade !... Euclides Cavaco

* FIVE O'CLOCK TEAR * poema de EMANUEL FÉLIX

Coisa tão triste aqui esta mulher com seus dedos pousados no deserto dos joelhos com seus olhos voando devagar sobre a mesa para pousar no talher Coisa mais triste o seu vaivém macio p'ra não amachucar uma invisível flora que cresce na penumbra dos velhos corredores desta casa onde mora Que triste o seu entrar de novo nesta sala que triste a sua chávena e o gesto de pegá-la E que triste e que triste a cadeira amarela de onde se ergue um sossego um sossego infinito que é apenas de vê-la e por isso esquisito E que tristes de súbito os seus pés nos sapatos seus seios seus cabelos o seu corpo inclinado o álbum a mesinha as manchas dos retratos E que infinitamente triste triste o selo do silêncio do silêncio colado ao papel das paredes da sala digo cela em que comigo a vedes Mas que infinitamente ainda mais triste triste a chávena pousada e o olhar confortando uma flor já esquecida do sol do ar lá de fora (da vida) numa jarra parada EMANUEL FÉLIX (in "A Palavra O Açoite", 197

EM BUSCA DO AMOR de Florbela Espanca

O meu Destino disse-me a chorar: " Pela estrada da Vida vai andando, E, aos que vires passar, interrogando Acerca do Amor, que hás-de encontrar. " Fui pela estrada a rir e a cantar, As contas do meu sonho desfiando... E noite e dia, à chuva e ao luar, Fui sempre caminhando e perguntando ... Mesmo a um velho eu perguntei : " Velhinho, Viste o Amor acaso em teu caminho ? " E o velho estremeceu...olhou ...e riu... Agora pela escada, já cansados, Voltam todos pra trás desanimados ... E eu paro a murmurar : " Ninguém o viu"! ..." FLORBELA ESPANCA

* SONETO * poema der E.E.Cummings (E.U.A)

Não será sempre assim... Quando não for, Quando teus lábios forem de outro; quando No rosto de outro o teu suspiro brando Soprar; quando em silêncio, ou no maior Delírio de plavras desvairando, Ao teu peito o estreitares com fervor; Quando, um dia, em frieza e desamor Tua afeição por mim se for trocando: Se tal acontecer, fala-me. Irei Procurá-lo, dizer-lhe num sorriso: " Goza a ventura que já gozei". Depois, desviando os olhos, de improviso, Longe, ah tão longe, um pássaro ouvirei Cantar no meu perdido paraíso. Tradução de : Manuel Bandeira Livro: Rosa do Mundo

* Á Cara Metade * poema de ADRIANO FERREIRA

É na paz do teu olhar, cheio de amor: No arroubo da sua luz, que me ilumina: No seu fulgor ingénuo de menina, Onde embate meu ego, com fragor! É nesse mar imenso de ternura; No amplexo envolvente da sua calma, Onde se espalha a pureza da tua alma E onde mergulha a minha e se depura! Quando, um dia, decrépito, no fim, Já muito perto da última viagem, Rezarei para estares junto a mim. E no meu leito de morte, moribundo, Gravarei, nas pupilas, tua imagem -Meu doce guia, lá no outro mundo. ADRIANO FERREIRA Poeta da ilha de S.Maria - Açores

Fernando Pessoa

Tenho tanto sentimento Que é frequente persuadir-me De que sou sentimental, Mas reconheço, ao medir-me, Que tudo isso é pensamento, Que não senti afinal. Temos, todos que vivemos, Uma vida que é vivida E outra vida que é pensada, E a única vida que temos É essa que é dividida Entre a verdadeira e a errada. Qual porém é verdadeira E qual errada, ninguém Nos saberá explicar; E vivemos de maneira Que a vida que a gente tem É a que tem que pensar.

* BRUMAS * Poema de Vitor Cintra

Nas brumas dos meus silêncios Nascem visões encantadas, Com ninfas, bruxas e fadas, Sonhos de amor, sempre densos. Nas brumas dos meus silêncios, Onde os mistérios são nada, Surgem paixões exaltadas, Feitas desejos, imensos. Nascem lembranças, eivadas De sensações adiadas E cheiros breves, intensos, Sem ilusões ansiadas, Em desespero, guardadas Nas brumas dos meus silêncios. VITOR CINTRA do livro " MURMÚRIOS "

FERNANDO MONTEIRO DA CÂMARA PEREIRA poema " ...Á Velocidade do Amor"

Montei minhas asas brancas e corri para ti à velocidade do amor ...fugias louca rubra informe mais célebre mais célebre ainda mas num amplexo parido na furia do meu desejo absorvi teu corpo espuma ... Desapareceste de meus braços teu cheiro teu som teu eco se desfez no horizonte em pó em vento em nada Derrotado Inerte Fernando Monteiro Do livro " Mar Branco " Ilha de S.Maria - Açores

" NÓS "
poema de VITOR CINTRA

P'ra todos nós o segredo Duma vivência serena, Vem de mão dado co'o medo; Que torna a vida pequena, Atroz. Quantos de nós fomos reis Duma utopia sem par? Quantos ditámos as leis Num reino de imaginar? ... Sem voz! ... Quantos de nós fomos pajens Dalgum senhor que há nos sonhos? Quantos fizemos viagens Rasgando mundos medonhos? ... Mas sós! ... Quantos de nós, por desejo De desvendar o mistério, Fomos perdendo o ensejo De ver aquilo que é sério, Em nós? ... Vitor Cintra do Livro " Murmúrios "