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A mostrar mensagens de 2009

Insinceridade....pema de Vasco Graça Moura

Quis-nos aos dois enlaçados meu amor ao lusco-fusco mas sem saber o que busco: há poentes desolados e o vento às vezes é brusco Nem o cheiro a maresia  rebate nas marés na costa de lés a lés mais tempo nos duraria do que a espuma a nossos pés A vida no sol-poente fica assim num triste enleio entre melindre e receio de que a sombra se acrescente e nós perdidos no meio Sem perdão e sem disfarce, sem deixar uma pegada por sobre a areia molhada, a ver o dia apagar-se e a noite feita de nada Por isso afinal não quero ir contigo ao lusco-fusco, meu amor, nem é sincero fingir eu que assim te espero, sem saber bem o que busco. Vasco Graça Moura    "Antologia dos Sessenta Anos"

Natal...... poema de.... José Maria Lopes de Araújo

NATAL III Volta Menino, volta … Volta ao meu coração , Com a Paz, com a Alegria Que em meu peito havia então ! É que eles esqueceram Que vieste a este Mundo, Sofrer torturas e dores, Não pela riqueza dos nobres, Mas pela miséria dos pobres E pelos mais pecadores! Volta Menino, volta, Volta ao meu coração, Com a chama de alegria, Com a paz do Teu Perdão! JOSÉ MARIA LOPES DE ARAÚJO

Sem Deus, Sem Vós e Sem Mim.... de Jorge Manrique ( Espanha 1440-1479)

Sou quem livre me senti, eu quem pudera olvidar-vos, eu sou o que por amar-vos estou, desde que vos vi, sem Deus, sem vós e sem mim. Sem Deus porque a vós adoro, sem vós, pois não me quereis; sem mim, pois se diz em coro que me tendes e tereis. Por isso triste, nasci, pois poderia olvidar-vos eu sou o que por amar-vos estou, desde que vos vi, sem Deus, sem vós e sem mim. Tradução de : José Bento do Livro " A Rosa dos Ventos "

A Essência da Mulher.... poema de.... Ciro di Verbena

Toda mulher esconde dentro da alma, Um lago azul, tranqüilo e transparente E sob as águas de aparente calma Guarda um vulcão de lava incandescente!... Às vezes, uma luz se nos acalma Nascendo-lhe do olhar, triste e carente, E ao transformar-se em dor, nos causa trauma Qual lava de um vulcão queimando a gente! Toda mulher é a essência da beleza, Tem a voracidade da tigresa No fogo da paixão quando na cama! É desse lago de águas cristalinas Que a essência da mulher, luz que fascina, Vem saciar a sede de quem ama! CIRO DI VERBENA

Inconstância..... poema de ....Florbela Espanca

Procurei o amor, que me mentiu. Pedi à Vida mais do que ela dava; Eterna sonhadora edificava Meu castelo de luz que me caiu! Tanto clarão nas trevas refulgiu, E tanto beijo a boca me queimava! E era o sol que os longes deslumbrava Igual a tanto sol que me fugiu! Passei a vida a amar e a esquecer... Atrás do sol dum dia outro a aquecer As brumas dos atalhos por onde ando... E este amor que assim me vai fugindo É igual a outro amor que vai surgindo, Que há-de partir também... nem eu sei quando... Florbela Espanca

Chico Xavier

Que Deus não permita que eu perca o ROMANTISMO , mesmo eu sabendo que as rosas não falam. Que eu não perca o OPTIMISMO , mesmo sabendo que o futuro que nos espera não é assim tão alegre. Que eu não perca a vontade de VIVER , mesmo sabendo que a vida é, em muitos momentos, dolorosa... Que eu não perca a vontade de ter grandes AMIGOS , mesmo sabendo que, com as voltas do mundo, eles acabam indo embora de nossas vidas... Que eu não perca a vontade de AJUDAR as pessoas, mesmo sabendo que muitas delas são incapazes de ver, reconhecer e retribuir esta ajuda. Que eu não perca o EQUILÍBRIO , mesmo sabendo que inúmeras forças querem que eu caia. Que eu não perca a VONTADE de amar, mesmo sabendo que a pessoa que eu mais amo, pode não sentir o mesmo sentimento por mim... Que eu não perca a LUZ e o BRILHO no olhar, mesmo sabendo que muitas coisas que verei no mundo, escurecerão meus olhos... Que eu não perca a GARRA , mesmo sabendo que a derrota e a perda são dois adversári

Soneto da Fidelidade....de Vinicius de Moraes

De tudo, ao meu amor serei atento Antes, e com tal zelo, e sempre, e tanto Que mesmo em face do maior encanto Dele se encante mais meu pensamento. Quero vivê-lo em cada vão momento E em seu louvor hei-de espalhar meu canto E rir meu riso e derramar meu pranto Ao seu pesar ou seu contentamento. E assim, quando mais tarde me procure Quem sabe a morte, angústia de quem vive Quem sabe a solidão, fim de quem ama Eu possa me dizer do amor (que tive): Que não seja imortal, posto que é chama Mas que seja infinito enquanto dure. VINICIUS DE MORAES

ESTA ESPÉCIE DE LOUCURA....poema de ....FERNANDO PESSOA

Esta espécie de loucura Que é pouco chamar talento E que brilha em mim, na escura Confusão do pensamento, Não me traz felicidade; Porque, enfim, sempre haverá Sol ou sombra na cidade. Mas em mim não sei o que há   Fernando Pessoa  in "Cancioneiro"

HINO DA PRIMEIRA CARTA AOS CORINTIOS.......... São Paulo ( Século I)

Se eu falasse as línguas dos homens e até as dos anjos, mas não  tivesse amor seria bronze que soa  ou címbalo que tine. Se tivesse o dom da profecia e conhecesse todos os mistérios e todos os saberes, se a minha fé fosse a ponto de mover montanhas, mas não tivesse amor, eu nada seria. Se  repartisse pelos pobres tudo quanto tenho, e meu corpo entregasse ás labaredas mas não tivesse amor, nada ganharia. O amor paciente, repleto de bondade, o amor que desconhece inveja e não ostenta orgulho,  o amor sem vaidade, que descura o próprio interesse, e não se irrita e não suspeita mal, o amor que não colhe alegria da injustiça, mas se alegra com  a verdade; tudo desculpa, tudo crê, tudo espera, tudo suporta. O amor jamais acabará: há um tempo em que vacilam as profecias, as línguas emudecem e o saber desaparece  porque só em parte conhecemos e só em parte profetizamos, mas quando chega a perfeição os limites apagam-se. Quando eu era criança, falava como criança, s

* Tive Um Coração, Perdi-o *....poema de AMÁLIA RODRIGUES

Tive um coração, perdi-o Ai quem mo dera encontrar, Preso no fundo do rio Ou afogado no mar. Quem me dera ir embora, Ir embora sem voltar, A morte que me namora Já me pode vir buscar. Tive um coração, perdi-o Ainda o vou encontrar, Preso no lodo do rio, Ou afogado no mar. AMÁLIA RODRIGUES do livro " Amália, Fados, Poemas e Flores "

A Folha de Salgueiro...... poema de António Feijó

Adoro essa mulher moça e formosa, Que à janela, a sonhar, vejo esquecida, Não por ter uma casa sumptuosa Junto ao Rio Amarelo construída... - Amo-a porque uma folha melindrosa deixou cair nas águas, distraída. Também adoro a brisa do Levante, Não por trazer a essência virginal Do pessegueiro que floriu distante, No pendor da Montanha Oriental... Amo-a porque impeliu a folha errante Ao  meu batel, no lago de cristal. E adoro a folha, não por ter lembrado A nova Primavera que rompeu, Mas por causa do nome idolatrado Que essa jovem mulher nela escreveu Com a doirada agulha do bordado... E esse nome...era o meu! António Feijó do Livro * ROSA DO MUNDO *

AÇORES..... poema de VITOR CINTRA

Nove ilhas de beleza deslumbrante, Surgidas do profundo mar imenso, Que o mundo conheceu porque o Infante Tornou o nevoeiro menos denso. Encostas de mosaicos verdejantes Elevam-se, rumando ao infinito. Hortênsias, feitas sebes, são constantes, Tornando o colorido mais bonito. Ali, onde gigantes residiram, Os cumes das montanhas que explodiram, Tornados em lagoas de beleza, Relembram, aos herdeiros dos atlantes, Que até já os primeiros navegantes Sabiam respeitar a natureza. VITOR CINTRA do livro " Entre o Longe e o Distante "

NO MEIO DO MAR poema de " JOSÉ MARIA LOPES DE ARAÚJO "

Nasci nas ondas que beijam As encostas dum vulcão… E quando à noite adormeço A minha terra é o berço Que embala o meu coração! Por tecto só tenho nuvens Meu horizonte é o mar … Se tivesse asas, um dia, Certamente que partia Para nunca mais voltar. ……………………………. Querer partir e não ter Um chão para caminhar! JOSÉ MARIA LOPES DE ARAÚJO

Sim, Sei Bem ....poema de FERNANDO PESSOA

Sim, sei bem Que nunca serei alguém. Sei de sobra Que nunca terei uma obra. Sei, enfim, Que nunca saberei de mim. Sim, mas agora, Enquanto dura esta hora, Este luar, estes ramos, Esta paz em que estamos, Deixem-me crer O que nunca poderei ser. FERNANDO PESSOA

O Sonho...poema de....SEBASTIÃO DA GAMA

Pelo sonho é que vamos, Comovidos e mudos. Chegamos? Não chegamos? Haja ou não frutos, Pelo Sonho é que vamos. Basta a fé no que temos. Basta a esperança naquilo Que talvez não teremos. Basta que a alma demos, Com a mesma alegria, ao que é do dia-a-dia. Chegamos? Não chegamos? -Partimos. Vamos. Somos. SEBASTIÃO DA GAMA

URGENTEMENTE.....poema de....EUGÉNIO DE ANDRADE

É urgente o amor. É urgente um barco no mar. É urgente destruir certas palavras, Ódio, solidão e crueldade, Alguns lamentos, Muitas espadas. É urgente inventar a alegria, Multiplicar as searas, É urgente descobrir rosas e rios E manhãs claras. Cai o silêncio nos ombros e a luz Impura, até doer. É urgente o amor, é urgente Permanecer. EUGENIO DE ANDRADE

No Meio o Mundo....poema de ...VITORINO NEMÉSIO

Com medo de o perder nomeio o mundo Seus quantos e qualidades, seus objectos E assim durmo sonoro no profundo Poço de astros anónimos e quietos Nomeei as coisas e fiquei contente Prendi a frase ao texto do universo Quem escuta ao meu peito ainda lá sente Em cada pausa e pulsação, um verso.  VITORINO NEMÉSIO

Um Poema.....de MIGUEL TORGA

Não tenhas medo, ouve: É um poema Um misto de oração e de feitiço... Sem qualquer compromisso, Ouve-o atentamente, De coração lavado. Poderás decorá-lo E rezá-lo Ao deitar Ao levantar, Ou nas restantes horas de tristeza. Na segura certeza De que mal não te faz. E pode acontecer que te dê paz... MIGUEL TORGA

Amélia dos Olhos Doces...poema de ...JOAQUIM PESSOA

Amélia dos Olhos Doces quem é que te trouxe grávida de esperança? Um gosto de flor na boca. Na pele e na roupa perfumes de França. Cabelos cor de viúva. Cabelos de chuva. Sapatos de tiras e pões, quantas vezes não queres e não amas os homens que dormem contigo na cama. Amélia dos Olhos Doces quem dera que fosses apenas mulher. Amélia dos Olhos Doces se ao menos tivesses direito a viver! Amélia gaivota amante ou poeta. Rosa de café. Amélia gaiata do Bairro da Lata. Do Cais do Sodré. Tens um nome de navio. Teu corpo é um rio onde a sede corre. Olhos Doces. Quem diria que o amor nascia onde Amélia morre? Cabelos cor de viúva. Cabelos de chuva. Sapatos de tiras e pões, quantas vezes não queres e não amas os homens que dormem contigo na cama. Joaquim Pessoa

HOJE----------- Lançamento do Novo Livro do Poeta VITOR CINTRA " ENTRE O LONGE E O DISTANTE "

Apresentação em simultâneo a ideia ganhou força e vai mesmo acontecer. Porque não é possível convidar pessoalmente todos os amigos do poeta VITOR CINTRA , deixo-vos aqui o convite. ENTRE O LONGE E O DISTANTE **************** LOUCOS ......poema de VITOR CINTRA Não são muitos, nem são poucos, Os poetas, bem seguros, Encerrados entre muros Sob o rótulo de loucos. São apenas os bastantes P'ra provar que a poesia É temida, e não devia, Tanto ou mais do que era dantes. Porque abordam quaisquer temas, Nas estrofes dos poemas, Incomodam co'as verdades. É por isso que os poetas São, por formas indirectas, Reprimidos entre grades. VITOR CINTRA do livro " RELANCES "

A SOLIDÃO DE UM HOMEM NA SUA CASA ...poema de Alexandre Dale

Aquele homem estava em sua casa, a comer bolachas com manteiga e a beber leite frio. A certo momento, deu-lhe para reparar em todas as coisas que o rodeavam. Havia meias de mulher numa corda esticada por cima da sua cabeça, loiça suja sobre a mesa, fruta de verão a apodrecer — e até, algures, um gato. Havia muitas coisas, sem dúvida, mas aquelas três ou quatro bastavam-lhe para que se sentisse um estranho naquele lugar — ou ele mesmo, mas noutro lugar. Era como se estivesse ali pela primeira vez. e daí sentiu que podia estar a ser como se fosse um homem de qualquer parte do mundo: um homem com as suas questões habituais, os seus problemas típicos, as suas esperanças, os seus receios. Um homem sozinho — porque membro de toda e qualquer família, pai de todos os filhos, amante ou companheiro de todas as mulheres, sangue, avô, amizade, semelhante. E então aquele homem pensou: agora vou-me deitar ao lado da minha mulher, que dorme hoje na falta

Não Posso Adiar.... A.RAMOS ROSA

Não posso adiar o amor para outro século Não posso Ainda que o grito sufoque na garganta Ainda que o ódio estale e crepite e arda Sob montanhas cinzentas E montanhas cinzentas Não posso adiar este abraço Que é uma arma de dois gumes Amor e ódio Não posso adiar Ainda que a noite pese séculos sobre as costas E a aurora indecisa demore Não posso adiar para outro século a minha vida Nem o meu amor Nem o meu grito de libertação Não posso adiar o coração A.RAMOS ROSA

Amor Combate ....poema de JOAQUIM PESSOA

Meu amor que eu não sei. Amor que eu canto. Amor que eu digo. Teus braços são a flor do aloendro. Meu amor por quem parto. Por quem fico. Por quem vivo. Teus olhos são da cor do sofrimento. Amor-país. Quero cantar-te. Como quem diz: O nosso amor é sangue. É seiva. É sol. É Primavera. Amor intenso. amor imenso. amor instante. O nosso amor é uma arma. É uma espera. O nosso amor é um cavalo alucinante. O nosso amor é pássaro voando. Mas à toa. Rasgando o céu azul-coragem de Lisboa. Amor partindo. Amor sorrindo. Amor doendo. O nosso amor é como a flor do aloendro. Deixa-me soltar estas palavras amarradas para escrever com sangue o nome que inventei. Romper. Ganhar a voz duma assentada. Dizer de ti as coisas que eu não sei. Amor. Amor. Amor. Amor de tudo ou nada. Amor-verdade. Amor-cidade. Amor-combate. Amor-abril. Este amor de liberdade. JOAQUIM PESSOA

Eu sei, Não te conheço Mas existes....poema de JOAQUIM PESSOA

Eu sei, não te conheço mas existes. por isso os deuses não existem, a solidão não existe e apenas me dói a tua ausência como uma fogueira ou um grito. Não me perguntes como mas ainda me lembro quando no outono cresceram no teu peito duas alegres laranjas que eu apertei nas minhas mãos e perfumaram depois a minha boca. Eu sei, não digas, deixa-me inventar-te. Não é um sonho, juro, são apenas as minhas mãos sobre a tua nudez como uma sombra no deserto. É apenas este rio que me percorre há muito e desagua em ti, Porque tu és o mar que acolhe os meus destroços. É apenas uma tristeza inadiável, uma outra maneira de habitares Em todas as palavras do meu canto Tenho construído o teu nome com todas as coisas. tenho feito amor de muitas maneiras, docemente, lentamente desesperadamente à tua procura, sempre à tua procura até me dar conta que estás em mim, que em mim devo procurar-te, e tu apenas existes porque eu existo e eu não estou só contigo mas é contigo que eu quero ficar só porque é a ti,

Viver Sempre Também Cansa....poema de JOSÉ AUGUSTO GOMES FERREIRA

Viver sempre também cansa. O sol é sempre o mesmo e o céu azul ora é azul, nitidamente azul, ora é cinzento, negro, quase-verde... Mas nunca tem a cor inesperada. O mundo não se modifica. As árvores dão flores, folhas, frutos e pássaros como máquinas verdes. As paisagens também não se transformam. Não cai neve vermelha, não há flores que voem, a lua não tem olhos e ninguém vai pintar olhos à lua. Tudo é igual, mecânico e exacto. Ainda por cima os homens são os homens. Soluçam, bebem, riem e digerem sem imaginação. E há bairros miseráveis sempre os mesmos, discursos de Mussolini, guerras, orgulhos em transe, automóveis de corrida... E obrigam-me a viver até à Morte! Pois não era mais humano morrer por um bocadinho, de vez em quando, e recomeçar depois, achando tudo mais novo? Ah! se eu pudesse suicidar-me por seis meses, morrer em cima dum divã com a cabeça sobre uma almofada, confiante e sereno por saber que tu velavas, meu amor do Norte. Quando viessem perguntar por mim, havias de di

Poente ...VITOR CINTRA

A tarde finda, Num pôr-de-sol Que brilha ainda. A alma, Onde a saudade impera, Desespera. Presente, Um rol De marcas e sinais, Dos quais A nostalgia Se evidencia, Se sente. Na tarde calma, Enquanto o sol se perde Num mar, que ferve, Avermelhando o céu, Aumenta a dor Do amor, Que se perdeu. Vitor Cintra

ESPERO poema de Sophia de Mello Breyner Andersen

Espero sempre por ti o dia inteiro, Quando na praia sobe, de cinza e oiro, O nevoeiro E há em todas as coisas o agoiro De uma fantástica vinda. Sophia de Mello Breyner

Conforto.... Poema de LG

Os arrependimentos fizeram-se para se sentirem, as dívidas para se contraírem, os gostos para se gozarem, as penas e os desgostos para se cumprirem. Os pecados fizeram-se para se cometerem, a vergonha para se passar, os frutos para se colher e o amor para se amar. A loucura para se fazer, a ternura para se dar e a paixão para se sentir. Mas de todas as verdades a que maior verdade encerra brota do fundo da terra e tem a ver com a vida e essa não se renega; Fez-se mesmo para ser vivida. Autoria de LG

COMO UMA ILHA,SOZINHA de Pedro Abrunhosa

Tu és todos os livros, Todos os mares, Todos os rios, Todos os lugares. Todos os dias, Todo o pensamento, Todas as horas O teu corpo no vento. Tu és todos os sábados, Todas as manhãs, Toda a palavra Ancorada nas mãos. Tu és todos os lábios, Todas as certezas, Todos os beijos Desejos, princesa. Como uma ilha, Sozinha... Prende-me em ti, Agarra-me ao chão, Como barcos em terra Como fogo na mão, Como vou esquecer-te, Como vou eu perder-te, Se me prendes em ti, Agarra-me ao chão, Como barcos em terra, Como fogo na mão, Como vou eu lembrar-te Se a metade que parte É a metade que tens. Tu és todas as noites Em todos os quartos, Todos os ventos Em todos os barcos. Todos os dias Em toda a cidade, Ruas que choram Mulheres de verdade. Tu és só o começo De todos os fins, Por isso eu te peço Fica perto de mim. Tu és todos os sons De todo o silêncio, Por isso eu te espero Te quero e te penso. Como uma ilha, Sozinha... PEDRO ABRUNHOSA

SOU UM EVADIDO poema de Fernando Pessoa

Sou um evadido. Logo que nasci Fecharam-me em mim, Ah, mas eu fugi. Se a gente se cansa Do mesmo lugar, Do mesmo ser Por que não se cansar? Minha alma procura-me Mas eu ando a monte, Oxalá que ela Nunca me encontre. Ser um é cadeia, Ser eu é não ser. Viverei fugindo Mas vivo a valer. FERNANDO PESSOA

Se Tanto Me Dói que as Coisas Passem.....poema de Sophia de Mello Breyner Andersem

Se tanto me dói que as coisas passem É porque cada instante em mim foi vivo Na busca de um bem definitivo Em que as coisas de Amor se eternizassem Sophia de Mello Breyner Andresen

SELO DOURADO

Recebi do Blog " PALAVRAS & OUTRAS COISAS MAIS " o * Selo Dourado *, o que me deixou muito honrada, daí que faço questão de o passar a outros blogs, conforme me indicou a minha querida Méi@, autora do dito blog. Assim, nomeio alguns dos blogs , ja que não posso nomear TODOS. Obrigada MÉI@. UM POEMA de Vitor Cintra BELEZAS MARIENSES - Solmariense PRAZER, ALEXANDRE !!! - SEMPRE JOVENS SIDAdania Lusófona DIÁRIO DE UMA FOFINHA TEMPO JANELA ÁFRICA EM POESIA ...MORE THAN WORDS UM VENTO NA ILHA UMA PÁGINA PARA DOIS FERNANDA & POEMAS LUA DOS AÇORES DE PROPÓSITO SANTA MARIA

INTIMIDADE poema de VITOR CINTRA

Teu corpo, poema ardente. Frenética rima de ais, Aurora, pedindo mais, Com louco vigor, fremente. Teu rosto, sorriso aberto, Promessa, sonho, desejo, Tornando-se a cada beijo Tão quente, quanto tão certo. E o dia feito uma hora, Por entre os ais e os gemidos, Festim, sem par, dos sentidos. Mas, quando te vais embora, Só fica o teu cheiro, intenso, Enchendo o vazio imenso VITOR CINTRA Do novo livro " PEDAÇOS DO MEU SENTIR " À venda nas livrarias, consulte: Editora Temas Originais

POEMA de Sophia de Mello Breyner Anderson

A minha vida é o mar o Abril a rua O meu interior é uma atenção voltada para fora O meu viver escuta A frase que de coisa em coisa silabada Grava no espaço e no tempo a sua escrita Não trago Deus em mim mas no mundo o procuro Sabendo que o real o mostrará Não tenho explicações Olho e confronto E por método é nu meu pensamento A terra o sol o vento o mar São a minha biografia e são meu rosto Por isso não me peçam cartão de identidade Pois nenhum outro senão o mundo tenho Não me peçam opiniões nem entrevistas Não me perguntem datas nem moradas De tudo quanto vejo me acrescento E a hora da minha morte aflora lentamente Cada dia preparada Sophia de Mello Breyner Andresen

JEITO DE SER poema de Gracinda Medeiros

JEITO DE SER Abraço o mundo com olhos de sentir e de tocar enquanto as mãos ficam livres para o fazer e para o distribuir. Vejo a vida com braços de acolher e de libertar enquanto os pés seguem trilhas de perder e de encontrar. E assim, abraçando tudo que vejo, posso sentir tudo que faço, acolher tudo que encontro e libertar tudo que perco Gracinda Medeiros

AMOR e SONO poema de Algernon Charles Swinburne

Deitado a dormir entre os afagos da noite Vi o meu amor debruçar-se sobre o meu leito, Pálida como a mais escura folha do lírio ou corola De pele macia e escura, o pescoço nu para ser mordido, * Transparente de mais para corar, tão quente para ser branca, Apenas de uma cor perfeita sem branco nem vermelho. E os lábios abriram-se-lhe amorosamente e disseram - Nem sei bem o quê, excepto uma palavra -Deleite. * E a face dela era toda mel na minha boca, E o corpo dela todo pasto a meus olhos; Os braços longos e lentos, as mãos quentes de fogo, * As ancas frementes, o cabelo a cheirar a Sul, os pés leves luzentes, as coxas esplêndidas e dóceis E as pálpebras fulgentes com o desejo da minha alma. Charles SwinburneLondres, 1837 Trad. Helena Barras do livro * Rosa dos Ventos *

Aperta-me Junto de Ti....poema de Rui Ressurreição

Aperta-me junto de ti, Quero o teu calor, o teu amor. Este sentimento de pertença, Este divino laço de ternura, Que nos ligará, para toda a eternidade. Continuarei a ser quem sou, eu mesmo, Aberto à vida, aberto ao mundo, Transparente ao meu destino, Com a música dentro do meu ser, A me fazer viver, no mais alto dos céus. Olha-me nos olhos Que vês dentro de mim? Gostas de mim? Do meu ser? Sinto que queres a minha companhia, Para junto vivermos em alegria, Descobrir o oceano do amor, Mesmo dentro da nossa dor, Percorrendo esse caminho, menos percorrido, Nas esferas do nosso destino. Quero pular e saltar, Amar sem limites... Sem fronteiras ou barreiras, Acreditar no teu amor, No teu calor... Que evapora os meus desejos, Condensando num ponto de eternidade, Um grito de alma, Que chama por socorro, Dentro dos seus mistérios... Dentro de seu labirinto... De vida, da sua alma querida ! RUI RESSURREIÇÃO

AMARRAS...poema de Rui Ressurreição

Já não sei o que sou, Já não sei para onde vou. Estas amarras que me prendem, a um destino sem amor... Em que me roubam o meu interior, Em que me afagam o ego, E matam o meu ser. Eu deixo, E eu sinto; Carências... Existências, por viver... Tristeza, Solidão, Ingratidão. Aqui estou eu a chorar, Sem amar, Sem viver, Mas com vontade de morrer! RUI RESSURREIÇÃO

QUEM ÉS?... poema de Ângelo Gomes

És o sonho que se vislumbra ao longe O mosteiro secreto onde habita o monge A árida planície que é dura... que é mole, Conforme as chuvas te fustiguem ou não... És o som das palavras que me dão vida O trautear da canção de urânio enriquecida... Quem és tu? Serás a lua? Serás o sol? Ou serás um enclave no meu coração? Ângelo Gomes

O CASAMENTO poema de Willem Elsschot ( Bélgica)

Quando ele descobriu como a névoa do tempo nos olhos da mulher faúlhas apagara, as faces submergira, a testa lhe sulcara, afastou o olhar, tomado de tormento. Maldisse em furor e a barba arrancaria, co'os olhos a mediu, mas nada pra excitar, e essa infância ele viu em danação mudar, enquanto o olhava ela, cavalo que morria. Mas morrer não morreu, e bem ele tentou sugar o imo à ossada que firme a sustentava. Não mais ela falou, queixar-se não ousava, tremia que era um dó, mas curada ficou. Pensou: dou cabo dela e puxo fogo à casa. Arranco o estrado fungo que os pés me entorpeceu. E como quem por vaus e por fogo correu alhures acharei o amor que tanto abrasa. Mas matar não matou, porque entre sonho e agir atravessam-se leis e mais triviais questões, e até melancolia, pra a qual faltam razões, e que à noite acomete, quando se vai dormir. Os miúdos cresceram, com os anos a correr, e viram que o sujeito a quem chamavam pai quieto ao pé do lume e sem dizer um ai punha um ar tenebroso e h

" Desejo " poema de Sérgio Jockimann

Desejo primeiro que você ame, E que amando, também seja amado. E que se não for, seja breve em esquecer. E que esquecendo, não guarde mágoa. Desejo, pois, que não seja assim, Mas se for, saiba ser sem desesperar. Desejo também que tenha amigos, Que mesmo maus e inconseqüentes, Sejam corajosos e fiéis, E que pelo menos num deles Você possa confiar sem duvidar. E porque a vida é assim, Desejo ainda que você tenha inimigos. Nem muitos, nem poucos, Mas na medida exata para que, algumas vezes, Você se interpele a respeito De suas próprias certezas. E que entre eles, haja pelo menos um que seja justo, Para que você não se sinta demasiado seguro. Desejo depois que você seja útil, Mas não insubstituível. E que nos maus momentos, Quando não restar mais nada, Essa utilidade seja suficiente para manter você de pé. Desejo ainda que você seja tolerante, Não com os que erram pouco, porque isso é fácil, Mas com os que erram muito e irremediavelmente, E que fazendo bom uso dessa tolerância, Você sir

Memória poema de Cecília Meireles

Dedico á minha MÃE, onde quer que esteja, hoje dia do seu aniversário. COM SAUDADES Tão longe, a minha família! Tão dividida em pedaços! Um pedaço em cada parte... Pelas esquinas do tempo, brincam meus irmãos antigos: uns anjos, outros palhaços... Seus vultos de labareda rompem-se como retratos feitos em papel de seda. Vejo lábios, vejo braços - por um momento persigo-os; de repente, os mais exatos perdem sua exatidão. Se falo, nada responde. Depois, tudo vira vento e nem o meu pensamento pode compreender por onde passaram nem onde estão. CECÍLIA MEIRELES

A BOCA poema de Umberto Saba ( Itália )

A boca que primeiro levou aos meus lábios a cor da aurora ainda em belos pensamentos desconto o aroma. Ó pueril boca, amada boca, que dizias o que ousavas e tão doce eras a beijar. Tradução de Eugénio de Andrade

Eu Não Sou de Ninguém.... poema de FLORBELA ESPANCA

Eu não sou de ninguém!... Quem me quiser Há-de ser luz do Sol em tardes quentes; Nos olhos de água clara há-de trazer As fúlgidas pupilas dos videntes! Há-de ser seiva no botão repleto, Voz no murmúrio do pequeno insecto, Vento que enfurna as velas sobre os mastros!... Há-de ser Outro e Outro num momento! Força viva, brutal, em movimento, Astro arrastando catadupas de astros! Florbela Espanca

Poema de Ângelo de Lima

Pára-me de repente o pensamento Como que de repente refreado Na doida correria em que levado Ia em busca da paz do esquecimento. Pára surpreso, escrutador, atento, Como pára um cavalo alucinado Ante um abismo súbito rasgado, Pára e fica, e demora-se um momento. Pára e fica, na doida correria. Pára à beira do abismo, e se demora. E mergulha na noite escura e fria Um olhar de aço, que essa noite explora. Mas a espora da dor seu flanco estria, E ele galga e prossegue sob a espora... Ângelo de Lima

A Mulher Que Passa poema de Vinicius de Moraes

A mulher que passa Meu Deus, eu quero a mulher que passa Seu dorso frio é um campo de lírios Tem sete cores nos seus cabelos Sete esperanças na boca fresca! Oh! como és linda, mulher que passas Que me sacias e suplicias Dentro das noites, dentro dos dias! Teus sentimentos são poesia Teus sofrimentos, melancolia. Teus pelos leves são relva boa Fresca e macia. Teus belos braços são cisnes mansos Longe das vozes da ventania. Meu Deus, eu quero a mulher que passa! Como te adoro, mulher que passas Que vens e passas, que me sacias Dentro das noites, dentro dos dias! Por que me faltas, se te procuro? Por que me odeias quando te juro Que te perdia se me encontravas E me concontrava se te perdias? Por que não voltas, mulher que passas? Por que não enches a minha vida? Por que não voltas, mulher querida Sempre perdida, nunca encontrada? Por que não voltas à minha vida Para o que sofro não ser desgraça? Meu Deus, eu quero a mulher que passa! Eu quero-a agora, sem mais demora A minha amada mulher

O poema da " MENTE " desconheço o autor

O POEMA DA 'MENTE' Há um primeiro-ministro que mente. Mente de corpo e alma, completamente. E mente de maneira tão pungente Que a gente acha que ele mente sinceramente. Mas que mente, sobretudo, impunemente... Indecentemente... mente. E mente tão racionalmente, Que acha que mentindo vida fora, Nos vai enganar eternamente. Desconheço o autor , mas achei bastante divertido, e por isso, partilho aqui a brincadeira.

* ALMA MINHA GENTIL QUE PARTISTE * Luis Vaz de Camões

Alma minha gentil, que te partiste Tão cedo desta vida, descontente, Repousa lá no Céu eternamente E viva eu cá na terra sempre triste. Se lá no assento etéreo, onde subiste, Memória desta vida se consente, Não te esqueças daquele amor ardente Que já nos olhos meus tão puro viste. E se vires que pode merecer-te Alguma cousa a dor que me ficou Da mágoa, sem remédio, de perder-te, Roga a Deus, que teus anos encurtou, Que tão cedo de cá me leve a ver-te, Quão cedo de meus olhos te levou. Luis Camões

Que noite serena !.....Àlvaro de Campos heterónimo de Fernando Pessoa

Que noite serena! Que lindo luar! Que linda barquinha Bailando no mar! Suave, todo o passado — o que foi aqui de Lisboa — me surge... O terceiro andar das tias, o sossego de outrora, Sossego de várias espécies, A infância sem futuro pensado, O ruído aparentemente contínuo da máquina de costura delas, E tudo bom e a horas, De um bem e de um a horas próprio, hoje morto. Meu Deus, que fiz eu da vida? Que noite serena, etc. Quem é que cantava isso? Isso estava lá. Lembro-me mas esqueço. E dói, dói, dói... Por amor de Deus, parem com isso dentro da minha cabeça. Álvaro de Campos, in "Poemas" Heterónimo de Fernando Pessoa

Entrar em Ti...
de RUI RESSURREIÇÃO

Por vezes é difícil entender a tua maneira de ser conhecer o teu interior a tua dor o que te move por amor. Que fazes tu no monte das ilusões essas sensações de sair fora de ti para longínquos universos para outras paragens em busca de novas miragens em que te iludes com os conceitos da mente que te engana que te chama para um território escorregadio frio e lamacento em que nas suas conexões receberás encontrões e perderás o rumo da tua vida afundando-te nos lagos cerebrais e sentindo falta de todos os teus ais duma alma desencontrada com a tua mais alta morada a do amor. Rui Ressurreição

Cântico VI de Cecília Meireles

Tu tens um medo: Acabar. Não vês que acaba todo o dia. Que morres no amor. Na tristeza. Na dúvida. No desejo. Que te renovas todo o dia. No amor. Na tristeza. Na dúvida. No desejo. Que és sempre outro. Que és sempre o mesmo. Que morrerás por idades imensas. Até não teres medo de morrer. E então serás eterno. Cecília Meireles

Em Silêncio de VERA SOUSA SILVA

Deixa-me amar-te assim... em silêncio... Não me peças palavras que não sei pronunciar, nem gestos que nunca fiz. Não sei tanto do que queria e quero tanto do que não sei. Olhas-me e perco o norte. Fico muda e desvio o olhar. Não é por não te amar, mas sim por esse amor ser grande demais. Mas em silêncio... Seria tão fácil dizer que te amo e perder-te. Seria tão simples dançar ao som da ilusão e entregar-me completa, plácida, serena, e acrescentar apenas as letras que faltam quando não digo “Amo-te”! Não me peças para ser o que não sou, nem para me transformar subitamente em mulher, porque sou apenas menina. Queria crescer nos teus braços fortes e esconder-me atrás do teu tronco másculo. Mas abraço-te... em silêncio. Desejo o suave toque acetinado dos teus lábios nos meus e imagino como será um beijo de verdade. Anseio por ele e sonho-o.. em silêncio. Aproveito-me do que tenho de melhor e sonho... Nos meus sonhos eu sou tua e tu... Tu, meu amor, pertences-me! Todos os dias nos amamos in

Tempo..... poema de Isabel C.

Eu quero agarrar o tempo, Que corre veloz e não cansa. Mas o tempo, tem todo o tempo, Corre, corre, atrás do vento, Numa corrida sem esperança. Queria contar os grãos de areia, Que tenho na palma da mão. E neste querer impossível, Espalha o vento invisível, O tempo que me resta, pelo chão. Assim, é para cada um, a sorte... Que se trás no destino, ao nascer, Por muito que tente, lute e se esforce, Ore e implore, para que a sorte volte, Esta não muda, só por se querer. 2009.06.08 Isabel C.

CANÇÃO...poema de Eugenio Florit ( Cuba)

Eco de um sonho que na noite busco torcendo o frio gris do pensamento. É tarde já para olhar estrelas e tenho frio. Talvez não saiba quando irei olhar-te. preso à alma de tua grata lembrança que está a gritar-me lá do sonho um nome tépido. Um nome que há-de ser como são as rosas, doce e fragrante prémio para os lábios; mais sereno que minha amargura sem esperança. Assim verei, na orla destes mares, para alegrar minhas altas gaivotas, umas letras unidas ao reflexo do seu olhar. Trad: José Bento. do Livro " Rosa do Mundo "

Esperança..... poema de JOSÉ MARIA LOPES DE ARAÚJO

Se eu conseguisse viver este dia, O dia que hoje passa, Como se fosse o último da minha vida... Esmagando ressentimentos, Aleijando-me de toda a podridão Que me aniquila a Graça, Que me enegrece a alma E enluta o coração... Ai, se eu pudesse suster Os passos incertos, No caminho errado, Do meu viver ! E ao passado não voltar, E saber esquecer, Esquecer e perdoar ! ... Se conseguisse reter A lágrima que teima, Dolorida, Soltar-se dos olhos vidrados, E que teima Os rostos enrugados Dos vencidos da vida ... Se eu pudesse evadir-me Deste negro cárcere, Desta dura e fria prisão Onde, há muito, vivo Abandonado, Cativo, Nos braços da solidão... Se eu conseguisse viver Só dentro de ti, E tu, bem dentro de mim, Mas sem ninguém entender O nosso viver assim ... Isolado, neste mundo, Onde a amargura se esconde, Alimentando uma esperança Que virá, não sei bem donde ... - Do horizonte ? Do céu? Do mar? ... Na chama do amor vivendo, O coração não se c

MENINO DE ROSTO SUJO....poema de José Maria Lopes de Araújo

A ti, menino de ninguém Sem norte era teu caminho, Jornada de mágoa e dor ... Tinhas sede de carinho ... Trazias fome de amor ! De rosto sujo, menino ... Como é negro o teu destino ! A lágrima que rolava No teu rosto macerado, Amargamente falava De um tormentoso passado ... Um passado curto ainda Tão tristemente marcado ... A este mundo, tua vinda Foi o fruto do pecado ! Dum pecado que persiste A marcar a tua vida ... Uma esperança tão triste Feita de esperança perdida ! Como é negro o teu destino ! De olhos molhados, menino ... É que não ter o calor De mãe, de pai ou de alguém, É viver-se sem amor , Sem carinho de ninguém ! No rosto sujo teus olhos Que trazem tanta amargura, Mostram bem teu mar de escolhos, Menino órfão de ventura ! De olhos molhados, menino ... Como é triste o teu destino ! JOSÉ MARIA LOPES DE ARAÚJO do livro " Outono da Vida "

FERNANDO MONTEIRO DA CÂMARA PEREIRA - do livro " MAR BRANCO "

NO TEU CORPO QUENTE Regressei ao horizonte no teu corpo quente Penetrei o meu ser no teu ser ansioso És o tudo…sou o tudo… És o nada, também Toquei no teto-universo… e encontrei-me em ti Já posso partir para o horizonte Para o meu gene perdido Que sou eu Tive o tudo tenho o nada Sou só …. o regressado Vivo suspenso do teu corpo quente Vivo suspenso no teu corpo quente Vivo suspenso no teu corpo quente. Fernando Monteiro da Câmara Pereira - Dez.1980 (Um açoriano nascido Mariense )

* Quero Acabar Entre Rosas ... * poema de Álvaro de Campos

Quero acabar entre rosas, porque as amei na infância. Os crisântemos de depois, desfolhei-os a frio. Falem pouco, devagar. Que eu não oiça, sobretudo com o pensamento. O que quis? Tenho as mãos vazias, Crispadas febrilmente sobre a colcha longínqua. O que pensei? Tenho a boca seca, abstracta. O que vivi? Era tão bom dormir! Álvaro de Campos, in "Poemas" Heterónimo de Fernando Pessoa

* Femina * de Soares Feitosa

Não lavei os seios pois tinham o calor da tua mão. Não lavei as mãos pois tinham os sons do teu corpo. Não lavei o corpo pois tinha os rastos dos teus gestos; tinha também, o meu corpo, a sagrada profanação do teu olhar que não lavei. Nem aqueles lençóis, não os lavei, nem os espelhos, que continuam onde sempre estiveram: porque eles nos viram cúmplices, e a paixão, no paraíso, parece que era. Lavei, sim, lavei e perfumei a alma, em jasmim, que é tua, só tua, para te esperar como se nunca tivesses ido a nenhum lugar: donde apaguei todas as ausências que apaguei ao teu olhar. SOARES FEITOSA

Desperta, Amor....poema de JOSÉ MARIA LOPES DE ARAUJO

DESPERTA, AMOR São teus meus versos, versos que escrevi, À luz da Lua, em noites estivais, A reviver as horas que vivi … Sonhos de amor que não voltaram mais. Rolaram meses, anos, na voragem Do tempo que já tudo destroçou … Somente, emoldurada, a tua imagem, Dentro em minha alma, estática, ficou! Por que não vens, mulher, por que não vens Dizer-me que me queres tanto, enfim, Como então me querias, se ainda tens O coração a palpitar por mim? Por que motivo tentas esconder, No olhar furtivo, o amor que te atormenta? Não turves a alegria de viver, Que, assim, da própria vida se afugenta? E dá-me as tuas mãos, as mãos que, um dia, Afagaram meu rosto, ternamente … Desperta, amor, que a vida é agonia Dos céleres minutos do presente! … José Maria Lopes de Araújo do livro REMOS PARTIDOS

CADA COISA ....poema de Ricardo Reis (Fernando Pessoa)

Cada coisa a seu tempo tem seu tempo. Não florescem no inverno os arvoredos, Nem pela primavera Têm branco frio os campos. Á noite, que entra, não pertence, Lídia, O mesmo ardor que o dia nos pedia. Com mais sossego amemos A nossa incerta vida. À lareira, cansados não da obra Mas porque a hora é a hora dos cansaços, Não puxemos a voz Acima de um segredo, E casuais, interrompidas, sejam Nossas palavras de reminiscência (Não para mais nos serve A negra ida do Sol) — Pouco a pouco o passado recordemos E as histórias contadas no passado Agora duas vezes Histórias, que nos falem Das flores que na nossa infância ida Com outra consciência nós colhíamos E sob uma outra espécie De olhar lançado ao mundo. E assim, Lídia, à lareira, como estando, Deuses lares, ali na eternidade, Como quem compõe roupas O outrora compúnhamos Nesse desassossego que o descanso Nos traz às vidas quando só pensamos Naquilo que já fomos, E há só noite lá fora. Ricardo Reis ( Fern

SINTO poema de Vitor Cintra

Sinto crescer a vontade De perceber se o que dizes, Entre risadas felizes, É ou não é a verdade, Ou só disfarça deslizes. Sinto crescer o desejo De te cingir nos meus braços, P'ra te prender com abraços, E arrancar-te num beijo Todos os teus embraraços. Sinto crescer a ideia De que, bem mais do que mostras, São bem reais as propostas Duma visão que incendeia Esse viver, de que gostas. VITOR CINTRA Do Livro " Pedaços do Meu Sentir" Á venda nas livrarias

AMOR QUE MORRE poema de FLORBELA ESPANCA

O nosso amor morreu... Quem o diria? Quem o pensara mesmo ao ver-me tonta, Ceguinha de te ver, sem ver a conta Do tempo que passava, que fugia! Bem estava a sentir que ele morria... E outro clarão, ao longe, já desponta! Um engano que morre... e logo aponta A luz doutra miragem fugidia... Eu bem sei, meu Amor, que pra viver São precisos amores, pra morrer, E são precisos sonhos pra partir. E bem sei, meu Amor, que era preciso Fazer do amor que parte o claro riso De que outro amor impossível que há-de vir! FLORBELA ESPANCA

A RUA DOS CATAVENTOS de Mário Quintana

Da vez primeira em que me assassinaram, Perdi um jeito de sorrir que eu tinha. Depois, a cada vez que me mataram, Foram levando qualquer coisa minha. Hoje, dos meu cadáveres eu sou O mais desnudo, o que não tem mais nada. Arde um toco de Vela amarelada, Como único bem que me ficou. Vinde! Corvos, chacais, ladrões de estrada! Pois dessa mão avaramente adunca Não haverão de arracar a luz sagrada! Aves da noite! Asas do horror! Voejai! Que a luz trêmula e triste como um ai, A luz de um morto não se apaga nunca! Mario Quintana