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Mensagens

A mostrar mensagens de março, 2010

O Afecto das Palavras de DANIEL GONÇALVES

Se precisares de mim estou sob o teu ventre trazendo da terra a água para o teu coração quero que respires como a nossa ameixieira e como ela te ergas sobre o rosto da manhã quero que ouças o meu sangue dentro de ti como um relógio marcando o pulso da sede e que nesse sopro de música saibas o amor e nem uma palavra te atravesse a respiração. DANIEL GONÇALVES do livro " O Afecto das Palavras "

Aqueles Que Me Têm Muito Amor....FLORBELA ESPANCA

Aqueles que me têm muito amor Não sabem o que sinto e o que sou... Não sabem que passou, um dia, a Dor À minha porta e, nesse dia, entrou. E é desde então que eu sinto este pavor, Este frio que anda em mim, e que gelou O que de bom me deu Nosso Senhor! Se eu nem sei por onde ando e onde vou! Sinto os passos de Dor, essa cadência Que é já tortura infinda, que é demência! Que é já vontade doida de gritar! E é sempre a mesma mágoa, o mesmo tédio, A mesma angústia funda, sem remédio, Andando atrás de mim, sem me largar! Florbela Espanca

" A VIDA " poema de JOÃO DE DEUS

A vida é o dia de hoje, A vida é ai que mal soa, A vida é sombra que foge, A vida é nuvem que voa; A vida é sonho tão leve Que se desfaz como a neve E como o fumo se esvai: A vida dura num momento, Mais leve que o pensamento, A vida leva-a o vento, A vida é folha que cai! A vida é flor na corrente, A vida é sopro suave, A vida é estrela cadente, Voa mais leve que a ave: Nuvem que o vento nos ares, Onda que o vento nos mares, Uma após outra lançou, A vida – pena caída Da asa da ave ferida De vale em vale impelida A vida o vento levou! JOÃO DE DEUS

"AO SAL" poema de Fernando Campanella

Nega-me tua alma – Esta minha alma mesma Que me furtas - E é o degredo irremediável que, em troca, me concedes. Nega – me tua chama Que tremula no delírio dos deuses, Teu anjo, que ressona no silêncio dos lagos, Nega-me, nega-me tua espuma Que regurgita no sonho das aves (eu sou o teu infante pássaro) E é sem minhas fontes que me deixas, Sem meu ar extasiado. Nega-me teu mar, tua tempestade, O sonho e a fantasia, E me deixas a seco ,ao sal amargo De cada dia. Nega-me teu olhos e já triste não me enxergo Que a felicidade, embora utopia das sombras, É também certa luz incidente Que só de teu olhar meus olhos como bênção recebem. Fernando Campanella

Leio o amor no livro.... NUNO JÚDICE

Leio o amor no livro da tua pele;demoro-me em cada sílaba,no sulco macio das vogais,num breve obstáculo de consoantes,em que os meus dedos penetram,até chegarem ao fundo dos sentidos.Desfolho as páginas que o teu desejo me abre, ouvindo o murmúrio de um roçar de palavras que se juntam,como corpos,no abraço de cada frase.E chego ao fim para voltar ao princípio,decorando o que já sei,e é sempre novo quando o leio na tua pele. Nuno Júdice