Avançar para o conteúdo principal

" Biografia "Poema de PEDRO HOMEM DE MELO











Com lírios nas mãos de neve,


Subi ao último andar,


A haver farda, era tão leve


Que fui subindo a cantar!


E fui subindo, subindo...


Só parei no patamar,


Abri as portas e janelas


Para poder respirar.


Tudo o que se via delas


Tinha a cor do meu olhar.


Da varanda me inclinei,


Para medir-lhe o tamanho.


Ai! dos vassalos de El-Rei


Aos quais El-Rei fica estranho!


Lá do alto, cá em baixo, o rio


Transformara-se em regato.


Reparei que, debruçadas,


Sobre o seu leito vazio,


Faias, apontando espadas,


Lhe exigiam um retrato.


Soprou, de súbito, o vento!


Varreu a noite a direito,


Rindo... Que risada fria!


Entanto o solar, ao vento,


Erecto fazendo peito,


Resistia, resistia...


Mas, das brechas do telhado,


Água, sôfrega, escorrera.


E o torreão do solar


- Ameias de pedra ou cera?


Era um pássaro assustado


Sem asas para voar.











Pedro Homem de Mello


(1904-1984)

Comentários

Enviar um comentário

Mensagens populares deste blogue

"PERDIDAMENTE" Florbela Espanca

Ser poeta é ser mais alto, é ser maior Do que os homens! Morder como quem beija! É ser mendigo e dar como quem seja Rei do Reino de Áquem e de Além Dor! É ter de mil desejos o esplendor E não saber sequer que se deseja! É ter cá dentro um astro que flameja, É ter garras e asas de condor! É ter fome, é ter sede de Infinito! Por elmo, as manhãs de oiro e de cetim... É condensar o mundo num só grito! E é amar-te, assim, perdidamente... É seres alma, e sangue, e vida em mim E dizê-lo cantando a toda a gente!

" SANTA MARIA "
poema de * BEATRIZ BRAGA *

Ilha de S.Maria - Açores

Santa Maria, barco meu, que no oceano flutua. E nós, eu e tu à deriva, sem destino vamos como que a dar sentido, à minha sina... à tua ... És tudo p'ra mim, és a flor, és estrela, és jardim ... És sol, és lua, És meu lar, minha terra, meu mundo, minha vida, minha rua. Mas tu barco meu continuarás tua viagem, enquanto eu em breve te deixarei, pois sou uma simples tripulante, que por cá está de passagem. Mas o que importa, eu grito, grito-o com alegria: Sou filha tua, filha de Santa Maria, desse barco que flutua ! ... Autoria de : BEATRIZ BRAGA do Livro: " Musas da Minha Terra " de Adriano Ferreira

Não Posso Adiar.... A.RAMOS ROSA

Não posso adiar o amor para outro século Não posso Ainda que o grito sufoque na garganta Ainda que o ódio estale e crepite e arda Sob montanhas cinzentas E montanhas cinzentas Não posso adiar este abraço Que é uma arma de dois gumes Amor e ódio Não posso adiar Ainda que a noite pese séculos sobre as costas E a aurora indecisa demore Não posso adiar para outro século a minha vida Nem o meu amor Nem o meu grito de libertação Não posso adiar o coração A.RAMOS ROSA