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Mensagens

A mostrar mensagens de janeiro, 2005

JOSÉ MARIA LOPES DE ARAÚJO poema ** AMOR **

AMOR No vasto mar, no céu ou na montanha, Na serra ou no planalto adormecido, Eu vejo-o a vaguear tonto e perdido, O louco amor ….essa figura estranha ! Amor, irmão da noite ….amor tristeza, Amor escuridão …tédio …pavor … Nostálgica visão de sonhador … Amor inquieto e feito de incerteza ! Amor em labareda … Amor em chama… Amor que aquece a alma regelada … Que chora e ri, e canta, e geme , e clama Em vão! … Amor que é tudo ! Amor que é nada ! … Quando sofro, alivio a minha dor, Chorando; e quanto é bom chorar assim … Com lágrimas dizendo, como em mim, Crepita e arde o fogo dum Amor ! José Maria Lopes de Araújo do livro de poemas “ Noite de Alma “

JOSÉ MARIA LOPES DE ARÚJO poema ** Paisagem **

PAISAGEM Trinados de passarinhos, Sombras frescas, perfumadas, Pastagens, fontes e ninhos E nascentes encantadas! Por solitários caminhos, Em alegres madrugadas, Trabalhadores e velhinhos Passam com suas enxadas. Na aldeia, só finda a vida Quando o sino duma ermida Dobrando toca Trindades. Quando vai o sol morrendo E vem a noite descendo Num crescendo de saudades! José Maria Lopes de Araújo " Noite de Alma "

JOSÉ MARIA LOPES DE ARÚJO poema " Outono da Vida "

OUTONO DA VIDA No doloroso rescaldo das labaredas Que queimaram meus sonhos, minhas esperanças, Vem a misteriosa voz do longe Gritar mensagens íntimas, poemas singulares, Em cantares do meu sentir... Presidiário do Mar, Meu desumano carcereiro, Sentindo-me cada vez mais só, Abafado no silêncio esmagador Desta insular solidão, Da minha amarga dor, Saí de mim próprio, em louca evasão... Queria gritar, bem alto, De modo que todo mundo ouvisse, O verbo amar ... o verbo amar, Em noites de luar, Ou manhãs de frio vendaval. Que loucura a minha ... Quero receber as gotas de mágoa Das horas distantes do meu viver ... Estou no Outono da vida ... Quando as folhas ressequidas rodopiam E a brisa chora como violino gemebundo ! ... Há palavras que não entendo Na minha solidão: O ontem, o hoje, o amanhã E aquilo que vive, cá dentro, Cá dentro, no coração ... O silêncio das coisas, O sal das lágrimas, Os sorrisos tristes, As esperanças diluídas , As chuvas, que sã

JOSÉ MARIA LOPES DE ARÚJO ** Ilha de Santa Maria **

ILHA DE SANTA MARIA Quem pode partir, um dia, Sem nunca mais te lembrar ?!... Ó minha Santa Maria, Quem te pudesse abraçar ! Tenho saudades de ti, Dos teus vales, dos teus montes ... Foi por ti que me perdi, Ouvindo o canto das fontes ... ... E dos grilos, ao luar, Nas noites quentes de estio, Da brisa que vem do mar, No Inverno , cinzento e frio. Se, na tua soledade, Te debruças sobre o mar, Mais cresce em mim a saudade De te ver e te abraçar ! ... Ó minha Santa Maria, Ilha tão abandonada ... Rainha fizeram-te um dia ... Hoje, escrava, não tens nada ! ... Onde estão as velas brancas Dos teus moinhos de vento, Que a brisa punha a girar, Em constante movimento ? E o moleiro já cansado, Subindo a colina, tinha No velho rosto, enrugado, Sulcos fundos de farinha ! ... E na tarde, quando o sino Dobrava, ao longe, Trindades, Marcava no meu destino, Um destino de saudades ! ... Tuas santas tradições, Em Maio, mês de Maria, No Terço e nas orações Que, nas aldeias. de dia, O povo ia rezando Me

JOSÉ MARIA LOPES DE ARAÚJO " Tempo...Idade...Distância "

TEMPO….IDADE … . DISTÂNCIA Tempo? Não! … Para o amor O tempo não vale … O tempo só conta na dor, O tempo só conta no mal! … Para amar O tempo não sabe contar ! Idade? – Não! … Para amar não há idade … Nunca envelhece o coração Que amar ! … Que o amor não sabe contar ! … Distância? – Não ! … Para amar não há distância, Nem tempo, nem idade … Que idade, tempo e distância, Tudo transforma a saudade ! Distância ? – Não ! … Galga tudo o pensamento; De tal maneira Que num momento Corre o mundo, E até vive a vida inteira Num segundo! Distância? – Não! … Não há distância para amar, Que o amor não sabe contar ! … José Maria Lopes de Araújo " Cinzas Quentes "

JOSÉ MARIA LOPES DE ARAÚJO * Amargo Anseio * do Livro " Noite de Alma " Publicado em 1964

O meu Agradecimento ao filho do Poeta " LOPES DE ARAÚJO ",que amávelmente me ofereceu alguns livros, edições esgotadas, e que reconhecidamente aqui agradeço. O poema abaixo , foi publicado no seu primeiro livro " NOITE DE ALMA " no ano de 1964. O Poeta José Maria Lopes de Araújo , completaria no próximo dia 25 de Janeiro o seu 86º. aniversário. Tratando-se de uma pessoa a quem dedico enorme admiração, tanto como poeta como pela obra feita em vida , em prol dos desfavorecidos meus conterrâneos ,tendo desenvolvido um meritório trabalho na " Sopa do Pobre " ,tal como o efectuado na área da Cultura, da Poesia entre outros. Foi enorme a sua dedicação a esta ilha à qual dedicou uma importante parte da sua vida tendo-lhe chamado " A MINHA TERRA ADOPTIVA ". Lembro do excelente Professor que foi. Na área da cultura, levou à cena algumas importantes peças de Teatro Revista músicado , da quais destaco " ESTÁS-TE CONSOLANDO" por nes

JOSÉ RÉGIO " Cântico Negro "

** Cântico Negro ** "Vem por aqui" - dizem-me alguns com os olhos doces Estendendo-me os braços, e seguros De que seria bom que eu os ouvisse Quando me dizem: "vem por aqui!" Eu olho-os com olhos lassos, (Há, nos olhos meus, ironias e cansaços) E cruzo os braços, E nunca vou por ali... A minha glória é esta: Criar desumanidades! Não acompanhar ninguém. - Que eu vivo com o mesmo sem-vontade Com que rasguei o ventre à minha mãe Não, não vou por aí! Só vou por onde Me levam meus próprios passos... Se ao que busco saber nenhum de vós responde Por que me repetis: "vem por aqui!"? Prefiro escorregar nos becos lamacentos, Redemoinhar aos ventos, Como farrapos, arrastar os pés sangrentos, A ir por aí... Se vim ao mundo, foi Só para desflorar florestas virgens, E desenhar meus próprios pés na areia inexplorada! O mais que faço não vale nada. Como, pois, sereis vós Que me dareis impulsos, ferramentas e coragem Para eu derrubar os meus obstáculos?... Corre, nas vos

VITOR CINTRA - " Crescer "

CRESCER Ontem mesmo fui criança; Fiz a ‘scola, Joguei bola; É bem viva esta lembrança. E, num sonho deslumbrante, O futuro Vi seguro, Quis ser homem, um gigante. Ao tornar-me adolescente Tive esp’rança Na mudança; Do futuro fiz presente, Vi a vida muito cedo; Vivi longe, Como monge; Fiz a guerra e tive medo. Só então fiquei adulto; Noutro mundo, Mais fecundo, Fiz-me um homem, não um vulto. Vivi sempre a liberdade Com respeito, P’lo direito. Só não tive mocidade. Vitor Cintra

VITOR CINTRA poema " Dói "

DÓI Quero-te tanto que dói ! Mas, nesta dor miudinha, Profunda, doce, daninha, Há um encanto d’esperança. Nela tu és, por lembrança Dos tempos da mocidade, O mito da f’licidade, Que o meu desejo destrói. Por cada mulher que vejo, Sinto ternura e desejo. E todas as que conheço Acho bonitas, confesso. Mas sinto, porque te quero, A dor do meu desespero. Aquelas, com quem cruzei, Só possui, nunca usei. Não fiz batota com elas, Nem fiz promessas balelas. Dei, nessas posses, carinho. Não quis vivê-las sózinho. Mas esta dor, que corrói A mente, como a vontade, Resulta da intensidade Do teu fascínio. Enquanto Minha alma cede ao encanto, Meu corpo grita bem alto, Sentidos em sobressalto: Quero-te tanto que dói. Vitor Cintra - “ Contrastes “